quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Velhice é pecado?


Hoje fui visitar minha tia numa "clínica geriátrica" (?)
Ou, sejamos menos hipócritas, num depósito de velhos...
Ela vinha sendo cuidada por um casal de sobrinhos, que delapidaram seu patrimônio e a jogaram naquele lugar.
O resto da família, certo de que ela estava sendo protegida pelo casal de sangüessugas, levou um susto.
Estamos, meu pai e eu, agilizando uma tentativa de obter sua guarda e tentar salvar, pelo menos, a pensão que poderá levá-la para um lugar melhor.

Estou muito triste por tê-la visto sem sua constante dignidade e imponência, apenas uma velhinha balbuciante e confusa, com marcas roxas nos braços, vestida com roupas prosaicas e desalinhadas, sem poder levantar da cadeira e querendo fugir dali para ir trabalhar.
Tirei uma foto dela no celular, consegui fazê-la sorrir por um pequeno momento.
Minha tia tão querida, que me ensinou as primeiras notas musicais e a tocar piano, que fazia um bolo delicioso de miolo amarelinho, que tentou me ensinar a costurar... quero te salvar do desprezo, da insensibilidade,
da solidão.
Me perdoa se não pude evitar teu sofrimento.

Atualizando em 17/11/14: Contratamos advogado, abrimos um processo
e perdemos, mais uma vez a Justiça acredita em mentirosos. Mas pelo menos foram obrigados a levá-la para um lugar com melhores instalações, ia visitá-la todas as semana, quando ficava deprimida ao vê-la definhar aos poucos. Uma simples gripe a hospitalizou, e complicações posteriores acabaram por levá-la a morrer neste hospital, e só nos avisaram quando ela já estava morta...Nem consegui ir ao seu enterro, estava com tanta raiva das pessoas que a abandonaram que preferi orar por ela em outro lugar. Mas como acredito na existência do karma, "o que é deles está guardado".

sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Há 30 anos...


A poluição do Pólo

Benéfica para a economia gaúcha, a instalação do 3° Polo Petroquímico está sendo vista como uma inevitável catástrofe ao meio ambiente.
Para o ecologista José Lutzenberger, o interesse por trás do Programa de Proteção Ambiental da Copesul para a área é outro: "O programa vai proteger o Pólo, não o meio ambiente".

ZH - 31/08/1977

Ah, Lutz, que saudade de você...












segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Após 86 tentativas...



Após 86 ocorrências policiais, Fernando Oliveira Pereira, 27 anos, finalmente conseguiu matar a mulher, Adriana de Souza Rodrigues, 28.

O crime ocorreu sábado à noite, no bairro Vila Ipê, em Caxias do Sul, quando o criminoso chegou em casa bêbado.

Segundo testemunhas, durante discussão com a esposa, ele pegou uma faca e golpeou a mulher nas costas e no pescoço.

O filho do casal, de 4 meses, estava no colo da mãe e caiu no chão, sofrendo ferimentos leves.

O agressor foi levado para o presídio de Caxias do Sul. UFA! ATÉ QUE ENFIM!!!!!!!!!

Fonte: Correio do Povo - 13-08-07

Notícia patética, não sei se choro ou acho graça...
Uma criatura faz 86 queixas para a polícia, declarando agressões contínuas e nada foi feito de concreto para barrar, segurar ou enjaular o agressor desvairado?
Só podia ter acabado em morte mesmo... mais uma morte anunciada...
Pobre da criança, fruto da famigerada união desses dois seres. Com 4 meses, a mãe morta e o pai, finalmente, enclausurado.
Uma história real e trágica, narrada num cantinho de jornal.
Não está na primeira página, está fora do manual.

domingo, 3 de junho de 2007

Pedro e o Lobo


Sou professora de música, entre outras atividades que exerço.
Adoro ensinar música para, principalmente, crianças pequenas, que ainda estão abertas para novos sons, não totalmente seduzidas pela arte comercial. Meus alunos escutam Mozart, Bach, Björk, música grega, cantigas de roda e mantras, por exemplo.
Além das aulas particulares e das que dou em escolas, uma vez por mês, participo com um grupo de voluntários de uma "maratona" de oficinas para colégios públicos, os mais carentes. São profissionais de várias áreas que disponibilizam seu tempo e conhecimento para, durante um dia, movimentar a rotina de uma instituição de ensino.
Minha oficina, é claro, é a de música.
Em maio passado, estivemos num dos morros localizados na periferia da cidade. Uma escola bem organizada e limpa: foi o que primeiro me chamou a atenção. Depois, quando conheci os professores e a direção, vi que o quadro de funcionários era composto por gente que amava o que fazia. Os alunos, resistentes ao aprendizado, mas não vou aqui questionar o porquê desse quadro, não é o foco do meu relato.
Quando iniciei a oficina, onde ensino a montar uma "marimba d'água", os maiores foram caindo fora, dizendo "isso é coisa de criança..." Os que ficaram, quiseram participar, construir os instrumentos de percussão, cantar, dançar, mas tudo dentro do contexto deles, isto é, muito funk, rap, letras que eles não compreendiam a metade mas sabiam de cor.
Deixei a eles o exercício livre da sua cultura musical, pelo menos na primeira hora.
Então, chegou o momento da troca.
"Agora, vou mostrar a vocês a música que eu gosto. Espero que vocês ouçam e apreciem da mesma maneira que me portei com relação à música que me mostraram".
Toquei um CD de Pedro e o Lobo, de Sergei Prokofiev, a maravilhosa aventura contada pelos instrumentos. Cada personagem é representado por um tema, tocado por algum instrumento da orquestra: Pedrinho, pelas cordas; Fred, o passarinho, pela flauta transversal; Nestor, o pato, pelo oboé; Misha, o gato, pelo clarinete; o avô, pelo fagote; o lobo, pelas trompas e os caçadores, pelos tímpanos. A narradora vai conduzindo o fio da história e a orquestra apresentando o movimento dos personagens.
A maioria dos instrumentos era desconhecida para eles. Ficaram curiosos, aproximando-se do aparelho de som, puxando as cadeiras, sentando no chão, procurando identificar cada sonoridade. O atrativo maior era saber pelo som do instrumento qual o personagem que se manifestava no enredo: um jogo novo, totalmente coordenado pelos ouvidos e pela atenção.
Um dos garotos que mais perturbara o andamento da aula há pouco, aproximou-se e sentou no meu colo.
Ia dizendo o nome dos personagens no meu ouvido, à medida que surgiam e antes de serem identificados pela narradora, acertando todos! Ele conseguira decorar o nome de todos os instrumentos e associá-los corretamente a cada personagem. Isso é bastante raro de acontecer, demonstrando além de ótima memória, uma enorme musicalidade, numa criança de 6 ou 7 anos, bagunceira, mal-educada e agressiva, sendo totalmente dominada e fascinada pela obra de um russo, do qual ele nem suspeitava a existência!
Isso me deixou feliz, emocionada e satisfeita com a vida, o mundo e todos os seus problemas...
Ficamos sentados juntos até o final da história e quando acabou, ele disse, orgulhoso: "acertei tudo, hein, tia?"
E saiu correndo, porta afora.

sábado, 7 de abril de 2007



Chico Mendes e a Amazônia

Ontem terminou a minissérie televisiva Amazônia e foi triste rever a história de Chico Mendes, sua luta pelos seringueiros e sua morte pelas mãos de pistoleiros a mando dos fazendeiros queimadores da mata para criar gado.

Utilizei essa história, a da Amazônia entrelaçada com a de Chico Mendes, como tema do meu trabalho de conclusão do curso de Comunicação Social/Jornalismo, em 1990 e 17 anos depois, vejo que pouca coisa mudou e se mudou, foi para pior.. Pena que se

enrolaram demais nas duas fases iniciais da minissérie, na hora de falar sobre Chico Mendes, tiveram que correr contra o relógio.

Amazônia terminou nesta sexta-feira (6/4) dedicando apenas quatro capítulos à fase adulta de Chico Mendes - interpretado por Cássio Gabus Mendes com muito talento.

A minissérie que prometia contar a história do estado do Acre de Galvez a Chico Mendes, passou correndo pelos fatos contemporâneos. A história de luta do seringueiro, assassinado em 1988, não teve atenção devida na trama.

Uma pena, pois essa história ajuda a entender pq hoje o mundo todo fala, discute e ambiciona nossa floresta.

Chico Mendes, por Zuenir Ventura
Visão (Lisboa), série “Heróis e ícones do século”, 19/8/99.

O país que produziu alguns dos mais famosos mitos olímpicos e dionisíacos deste século - Pelé, Tom Jobim, Ayrton Senna, Ronaldinho - criou também um herói trágico e transformou-o no proto-mártir da causa ecológica, um homem que precisou morrer para ser conhecido em sua pátria, ele que já era, como escreveu “The New York Times”, “um símbolo de todo o planeta”.

De fato, o seringueiro Chico Mendes foi quem mobilizou não só o Brasil, mas também o mundo para a defesa da floresta amazônica, à qual acabaria dando sua vida. Certo de que estava marcado para morrer, ele não só denunciou a trama, como caiu que morreria em vão. “Se descesse um enviado dos céus e me garantisse que minha morte fortaleceria nossa luta, até que valeria a pena. Mas ato público e enterro numeroso não salvarão a Amazônia. Quero viver”.

Ele disse isso e pouco depois, às 18h45 do dia 22 de dezembro de 1988, foi assassinado, aos 44 anos, na porta da cozinha de sua casa em Xapuri, uma pequena cidade de cinco mil habitantes no estado amazônico do Acre. “Ele vinha com as mãos na cabeça, todo vermelho de sangue”, conto Ilzamar, que ouviu um estouro e escreveu para o marido. “Quando eu quis pegar no seu braço, ele caiu e ficou se debatendo. Aí vi que estava morrendo”.

Além de 18 perfurações no braço, ele fora atingido no peito direito por 42 grãos de chumbo de uma espigarda de caça. O autor confesso do tiro, Darci, era filho de Darli Alves da Silva, o fazendeiro mandante do crime.

Só então, e diante da grande repercussão internacional, é que o Brasil começou a desconfiar, cheio de culpa, de que tinha perdido o que se custa tanto a construir: um verdadeiro líder.

Como um Gandhi dos trópicos, Chico organizou pacificamente os seringueiros para lutar pela preservação da floresta, que vinha sendo derrubada no Acre desde a década de 70 para dar lugar às grandes pastagens de gado. O movimento de resistência usou uma tática simples e eficaz: o empate, que consistia em impedir os desmatamentos, colocando os seringueiros, seus filhos e mulheres, todos desarmados, entre os peões armados de serras e as árvores.

Hábil político e homem de diálogo, Chico conseguiu também desfazer uma inimizade histórica entre seringueiros e índios, que sob sua influência se aliaram numa grande frente conhecida pelo nome de Povos da Floresta. Condecorado pela ONU e internacionalmente pelas organizações internacionais de proteção ao meio ambiente, Chico demonstrou que era possível promover um desenvolvimento racional para a floresta amazônica, sem transformá-la em santuário intocável, mas também sem devastá-la.

Criou para isso o projeto de reservas extrativistas, espaços para garantir os direitos mínimos que os seringueiros nunca tiveram: escola, postos de saúde, melhores condições de distribuição de seus produtos, maior produtividade de garantia, segurança contra as
ameaças de expulsão dos latifundiários.

Chico sabia que precisava de aliados, não podia ficar isolado em Xapuri lutando contra poderosos interesses de fazendeiros e pecuaristas. Alguns antropólogos e representantes de entidades ambientalistas dos Estados Unidos e da Europa se encarregaram de projetá-lo no circuito internacional.

Em 1987, ele foi o primeiro brasileiro a receber o prêmio Global 500 das Nações Unidas, em Londres. No ano seguinte foi convidado a participar da reunião do Banco Interamericano de Desenvolvimento.

Com o mesmo desenvolvimento com que andava nas ruas toscas de Xapuri ou pelas densas florestas amazônicas, Chico passou a se movimentar por cidades como Nova York, onde chegou a se hospedar no mesmo hotel em que estava o então presidente Ronald Reagan. Os convites de viagens se sucederam e sua causa ficou sendo conhecida no mundo.

Na reunião do Bird, ele convenceu os conselheiros do banco a suspender os financiamentos para a construção de uma grande rodovia no Acre, argumentando que sem as devidas preocupações ambientais a iniciativa seria um atentado à floresta, aos seringueiros e aos índios.

Se por um lado o prestígio externo reforçou a sua luta interna, por outro, pode ter contribuído para sua desgraça. Aplaudidas pelo Bird, pelo Bid e pelo Congresso americano, suas ideias enfrentaram a oposição violenta dos latifundiários, dos madeireiros e dos grandes projetos agropecuários que vivem do desmatamento desordenado da Amazônia.

A fama que ele alcançou junto a instituições e entidades estrangeiras, o seu carisma, tudo isso aliado aos incômodos empates que organizava em Xapuri, deve ter dado a seus inimigos a certeza de que a única maneira de barrar sua ação catalisadora era a morte.

Por isso ele sabia que ia ser assassinado e denunciou incansavelmente a ameaça. “Não quero flores no meu enterro, pois sei que vão arrancá-las da floresta”, escreveu no dia 5 de dezembro numa mensagem-despedida.

“Quero apenas que meu assassinato sirva para acabar com a impunidade dos jagunços, sob a proteção da Polícia Federal do Acre e que, de 1975 para cá, já mataram mais de 50 pessoas”.

Poucas vezes a polícia brasileira conto com uma lista tão completa de acusados, acomodada pela própria vítima. Nem isso, porém, serviu para impedir a morte anunciada.

Chico Mendes acertou quando anunciou que ia ser morto, mas errou ao achar que sua morte poderia ser inútil. Se ela não salvou a Amazônia, serviu pelo menos para intensificar o debate planetário sobre o destino da região. E mais: esse assassinato - antecedido por dezenas de execuções de outros líderes religiosos - servirá para denunciar que em um país rico e extenso ainda se mata por questões de terra.

Aquele estouro que Ilzamar ouviu chegou ao mundo todo. Nunca um tiro dado no Brasil ecoou tão longe.

Mas... existe um outro olhar...

"Os índios são defensores da floresta há milênios, embora não recebam prêmios na ONU, nem monumentos no centro da capital acreana, muito menos papel de destaque numa minissérie sobre a Amazônia. Galvez, Plácido de Castro e Chico Mendes - o branco sente a necessidade de criar heróis para amenizar-lhe a consciência acusadora e para projetarem-se politicamente sobre outros brancos. Índio nunca vira mocinho em história branca."

domingo, 1 de abril de 2007

Já comeu seu animal em extinção hoje?















Estas receitas foram tiradas de um suplemento da Revista Cláudia, década de 60 (aproximadamente) e ensinam como preparar pratos com carne de animais hoje em vias de extinção (um deles já extinto)! Para vegetarianos, nem pensar... Mas um carnívoro ou onívoro, "aceita a sugestão do chef"?

01. CAPIVARA
A capivara tem a gordura entre o couro e a carne.
É preciso muito cuidado para retirar o couro sem deixar a gordura entranhar na carne (caso em que a carne fica insuportável).
Se houver água corrente, amarre a capivara sem gordura e sem o fato por uma corda ou cipó e deixe na água a noite toda ou, pelo menos, três horas. Não havendo água corrente, fervente numa vasilha bem grande, com bastante água e folhas de mandioca.
Lave depois na água fria. Separe os quartos e tempere com sal, alho e pimenta, bastante cebola.
Fure a carne com a faca, bem furadinha, e deixe três horas no tempero. Afogue na gordura bem quente e junte água.
Cozinhe e deixe apurar bem.

02. TATU ASSADO
Pegue um tatu-bola, folha, veado, galinha ou verdadeiro e corte pela barriga, de fora a fora.
Retire as vísceras.
Despregue, com a faca, as paletas internamente e encha os vãos com sal. Salgue também por dentro.
Faça um furo de cada lado das partes abertas e introduza um espeto de dentro para fora, forçando o casco, que é maleável. Depois, meta o espeto pelo furo, de fora para dentro, e leve às brasas. Asse batata-doce ou mandioca no borralho, no mesmo fogo. Sirva junto.

03. FAROFA DE TATU
Pegue um tatu (bola, folha, veado, galinha ou verdadeiro) e desfate.
Retire toda a carne e ponha para ferventar bastante tempo.
Na panela vão gordura, sal e pimenta.
Desfie, com a mão, toda a carne e coloque na panela. Corte dentes de alho ao meio e junte na panela, retirando-os assim que fritem.
Ponha rodelas de cebola e espere que amoleçam.
Jogue farinha de mandioca, aos poucos, e siga mexendo, até dourar.

04. GUISADO DE MIÚDOS DE VEADO
Pegue o fígado, o coração e o bofe do veado-mateiro ou catingueiro e corte bem fininho.
Esquente gordura na panela e junte o guisado.


05. VEADO ASSADO
Perfure muito bem o quarto traseiro ou o lombo de um veado-mateiro e enfie toicinho de porco, que a carne è muito seca.
Tempere com gengibre cortadinho, pimenta-bode (verde), sal, alho e cebola, limão azedo e louro. Coloque numa assadeira untada com banha de porco (nunca óleo, que resseca mais ainda) e leve ao forno.
Faça um molho frio (não vai ao fogo) com limão-galego, pimenta-bode, cebola, alho e azeite. Depois de assado, corte as fatias, leve ao molho e sirva.

06. JACARÉ
Pegue o jacaré (tinga, porque o arura não existe mais) e corte a traseira.
Da cauda, chamada catana, retire a peça de carne.
Corte ao longo para fritar os filés, ou em postas, em sentido contrário, para fazer ensopado.
Para fritar, usa-se apenas sal e gordura, quase fria, porque na gordura quente a carne espirra. Para o ensopado, o molho é de cebola, picada, alho socado com sal, pimenta-de-cheiro e do reino, além de tomatinhos.
Leve as postas à panela e cubra com o molho, nova camada de postas, outra de molho.
Fogo sempre brando e não vai água, porque a carne dessora no fogo brando, dando caldo.

07. TARTARUGA À CARAJÁ
Pegar uma cunha (tartaruga pequena, nova), puxar a cabeça para cima do casco e ir martelando no pescoço para que morra lentamente (caso contrário, ela sofre muito, esperneando por muito tempo). Lave, faça um jirau com varas verdes e fogo lento. Coloque a cunha de barriga para baixo.
Depois de uma hora, quando o casco, em cima, está amornando, desvire-a. Espere mais outro tanto. Retire o fato inteiro e faça um molho com sal, pimenta-de-cheiro e tomate de tempero. Passe as porções no molho, à medida que for comendo.

08. TARTARUGA DE CRISTÃO
(Os índios chamam qualquer branco de cristão.) Tome uma tartaruga grande e corte a cabeça.
Ela esperneará um dia inteiro e, para evitar isso, enfie um estilete de taquara pela espinha dorsal até que cessem os movimentos. Com um machado, corte e tire parte óssea, por baixo da tartaruga.
Retire o fatame e separe as tripas.
Retire as postas de carne (que estarão escuras).
Jogue, rapidamente, em água fervente (exatamente para que fiquem claras e bonitas).
Então, faça como quiser: asse, frite, refogue ou prepare um bom ensopado.
Com um cuidado: tartaruga não aceita pimenta-do-reino nem vinagre.
Das tripas, bem lavadas e picadas (assim como dos miúdos), faz-se um refogado ou uma farofa.
Dizem que a fêmea – chamada viração – é mais gostosa do que o macho – capitari.



Fonte: Suplemento Culinário da Revista Cláudia - década de 60


A última receita requer requintes de crueldade...

PREFIRO FAZER UMA "VERDURICINA" NA MINHA COZINHA (veja a foto).



segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007

Birmânia







"A única prisão real é o medo.
E a única liberdade real é a liberdade de não ter medo."
Aung San Suu Kyi



Fazendo uma busca num sebo, na seção das hoje desprezadas fitas de video VHS, costumo encontrar raridades, filmes cults ou filmes praticamente desconhecidos, alguns não alardeados pela midia, mas enfim, preciosidades.

Assim encontrei MUITO ALÉM DE RANGUN (Beyond Hangoon), com Patricia Arquette no papel feminino principal, interpretando o papel de uma médica norte-americana, que ao perder de forma brutal o marido e o filho, resolve viajar pelo Oriente, fugindo da vida.

Na Birmânia, envolvida pela situação de guerrilha, abuso dos militares e a luta do povo, ela encontra novos motivos para acreditar na vida e, principalmente, exercer sua profissão.
Direção de John Boorman, produção de 1994.

Assistindo a esse filme, você pode ter uma idéia da situação política da Birmânia (que não está muito diferente na atualidade) e também conhecer a figura carismática de Aung San Suu Kyi, a líder do povo birmanês, Prêmio Nobel da Paz de 1991.

Aung San Suu Kyi (Rangum, 19 de Junho de 1945) foi premiada com o Nobel da Paz em 1991, líder da oposição, ativista dos direitos humanos.
Filha de Aung San, o herói nacional da independência da Birmânia que foi assassinado quando Suu Kyi tinha apenas dois anos de idade.
Depois de ter vivido em Londres, regressou ao seu país em 1988, por altura da morte da mãe.

O seu retorno à Birmânia, entretanto denominada Myanmar, coincidiu com a eclosão de uma revolta popular espontânea contra vinte e seis anos de repressão política e de declínio econômico no país. Em pouco tempo, Suu Kyi tornou-se a líder do movimento de contestação ao regime militar.
Nesse ano de 1988, morreram 10.000 pessoas em consequência das medidas de repressão adoptadas pelo regime. Após o seu partido (a Liga Nacional para a Democracia) ter obtido uma vitória esmagadora nas eleições de 1990, Suu Kyi viu-se remetida a prisão domiciliária pela junta militar que governa o seu país. A Birmânia continuou a ser dirigida pelo general Ne Win num regime ditatorial, mas a luta pela democracia ganhava crescente visibilidade e apoio internacional.
Em 1990, Aung San Suu Kyi ganhou o prêmio Sakharov de liberdade de pensamento, e em 1991 foi ganhadora do Prêmio Nobel da Paz.
Em 1995 o regime militar decidiu levantar a pena de prisão domiciliária imposta a ela, como sinal de abertura democrática dirigido à comunidade internacional. As liberdades individuais de Suu Kyi, porém, continuam muito limitadas.




Phonm Penh, 18/04/2006(IPS) - Uma recente visita de parlamentares da Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean) a um campo de refugiados na fronteira talandesa-birmanesa nos permitiu ter uma pungente visão de um país devastado pela violência e a repressão.
Agressões militares, trabalhos e deslocamentos forçados, assassinatos e torturas, cuja responsabilidade cabe ao governo militar da Birmânia, levaram milhares e milhares de birmaneses a fugirem para países vizinhos, bem como para a miríade de campos de refugiados que se alinham próximo das fronteiras. Estima-se que cerca de 700 mil birmaneses fugiram de seu país e vivem na Tailândia, Malásia, Bangladesh e Índia.

O trabalho e o deslocamento forçados são praticados para permitir o controle militar sobre a atividade econômica. Muitas pessoas são desalojadas de suas terras para realizar plantações comerciais e extração de recursos naturais, tais como exploração florestal e tubulações de gás e petróleo. A sistemática violência sexual cometida por pessoal militar contra mulheres de diferentes etnias é endêmica e está amplamente documentada pela Comissão de Direitos Humanos da ONU e por várias organizações femininas.

Os parlamentares da Asean, que visitaram o campo de refugiados, ficaram, como eu, profundamente preocupados pela situação na Birmânia, que o governo militar rebatizou de Myanmar. O atual nível de violência seguiu-se à chegada ao poder dos integrantes da linha dura, depois da purga do ex-primeiro-ministro general Khin Nyunt, no final de 2004.
Desde então, o regime ameaçou sufocar de uma vez por todas todos os grupos de oposição e insinuou, inclusive, que até grupos que declararam cessar-fogo não estão a
salvo.

Como muitos campos ao longo da fronteira, o que visitamos, e cujo nome não darei por razões óbvias de segurança e políticas, abriga mais de 20 mil refugiados, incluindo crianças mulheres e homens. A guerra e a opressão militar têm um efeito devastador sobre a vida das pessoas, já que deixa as vítimas em estado de angústia, depressão e aflição. Essas pessoas desenvolvem um sentimento de desesperança sobre sua própria incapacidade de mudar sua situação e reconduzir seu futuro. Conscientes de que havia parlamentares da Asean visitando seus lares provisórios, os refugiados, que pertencem a diferentes comunidades étnicas, aproveitaram a oportunidade para nos lembrar o quanto nossa missão era urgente e necessária.

Nos disseram que precisavam de nossa voz para que falássemos em seu nome, já que suas próprias vozes foram violentamente silenciadas e oprimidas ao serem obrigados a viver em um campo de refugiados e ficarem privados de meios de comunicação. Nos pediram para dizer ao mundo que eles querem liberdade e Justiça, bem como poder retornar aos seus verdadeiros lares. Eu, que sou do Camboja, um país que ainda se recupera da devastação causada pelo genocídio ocorrido durante o regime de Pol Pot, senti profunda tristeza ao saber pelos refugiados que, entre as muitas trágicas semelhanças entre nossas nações, está a utilização de crianças como soldados.

Na Birmânia, inclusive crianças de 11 anos são freqüentemente retiradas à força de suas casas pelos militares e alistadas como soldados no exército. Segundo recente informe das Nações Unidas, a Birmânia tem, atualmente, o maior número de crianças-soldado em todo o mundo, estimado em 70 mil. Inclusive aquelas crianças que conseguem escapar do serviço militar são freqüentemente escravizadas para fazer trabalhos forçados. Como conseqüência desta situação, aos jovens freqüentemente não resta outra opção senão a de fugir com suas famílias para as selvas e evitar ameaçantes "serviços" que, com freqüência, levam à tortura e à morte.


O garoto na foto tem apenas 13 anos.


O Camboja está tentando, há mais de 15 anos, se recuperar de seu horrível legado.
A Birmânia, entretanto, não muda há mais do que essa quantidade de anos.
A inaceitável utilização na Birmânia de crianças como soldados e para a realização de trabalhos forçados deve ser enfrentada com grande urgência.
Não podemos permitir que as crianças continuem vendo a guerra e suas atrocidades como um componente normal de suas vidas.
Não podemos permitir que sejam perdidas gerações em meio ao medo, à cólera e ao desespero. Não devemos permitir que se empane o fraco brilho de esperança que ainda há em seus olhos. (IPS/Envolverde)

Son Chhay é parlamentar cambojano. (FIN/2006)