Monday, August 29, 2011

O Código Florestal e o futuro do planeta - uma visão pecuarista


"Hoje, um homem médio consome 38,9 kg de carnes ao ano.
Em 2050, pelo efeito da renda, serão 64 kg e isso trará uma vida média mais longa e melhor.
Por outro lado, teremos que aumentar em 120% a oferta de carnes para atender essa demanda, ou seja, temos mais do que dobrar o nível de produção de carnes que atingimos ao longo de toda a história do homem em menos de 40 anos.
Para produzir a quantidade de 589 milhões de toneladas de carne em 2050, precisaremos dar um grande salto nas produções de milho e soja. Em 2050, deveremos produzir 1,7 bilhão de toneladas de milho, 117% mais do que atualmente e 647 milhões de toneladas de soja, um aumento de quase 150%.
Isto é um alerta global.
Se não atingirmos esses números, a fome e a subnutrição serão problemas muito sérior, potenciais causadores de guerras civis e entre nações.
Para quem realmente se preocupa com o futuro do planeta, é bom ter essa preocupação bem clara em sua mente.
Vale a pena ter futuro se nele não se viverá em paz?
De que vão adiantar as super tecnologias e entretenimentos do futuro se bilhões não terão um simples prato de comida?
É este futuro que desejamos evitar quando queremos a aprovação do novo Código Florestal no Senado. (...) Deixem-nos produzir onde produzimos há séculos, que resolveremos o problema da fome. Cuidem dos 62% do território nacional que não são propriedades rurais e seremos referência em meio ambiente. Façamos esse pacto e o futuro da planeta estará a salvo."

Antonio da Luz - Economista do Sistema Farsul
Em Sul Rural, Órgão de divulgação do Sistema Farsul - nº 335 - agosto de 2011


O texto mostra o pensamento óbvio dos pecuaristas com relação ao problema da fome no mundo; para eles, a solução é alimentar a população com carne - vamos salvar o mundo da fome com carne! O envolvimento deles com a agricultura é meramente para obter alimento para o gado - soja e milho - não para alimentar pessoas.
Então, espaço, energia e trabalho dirigidos a criar gado para reverter em lucro, atividade habilmente disfarçada em palavras nobres sobre como "salvar o futuro do planeta"!

A fome do mundo pode ser saciada com um prato de grãos e não com o sangue e o sofrimento dos animais, cuja criação ocupa terras que poderiam estar sendo semeadas com vegetais diversos e não o milho e a soja para engordar o gado!

Conforme os dados que o economista coloca no texto,  precisarão "produzir a quantidade de 589 milhões de toneladas de carne em 2050" para que o povo sobreviva... acabem com a pecuária e deixem que o verdadeiro agricultor, comprometido com o bem estar do meio ambiente (aquele que não usa agrotóxicos, que não é escravo da Monsanto e que não planta soja) lance suas sementes na terra, pois como disse Pero Vaz de Caminha quando chegou em terras brasileiras; "aqui nessa terra tudo que se planta nasce, cresce e floresce!"

Sunday, August 28, 2011

Rodeios: Crueldade ou Diversão?


Os rodeios são promovidos como exercícios de coragem e valentia da habilidade humana em conquistar as bestas ferozes e indomadas do velho Oeste. Na realidade, os rodeios não são nada mais do que uma exibição manipulada do domínio humano sobre os animais, mal disfarçado de "entretenimento". O que começou no final do século XIX como um concurso de habilidades entre cowboys se transformou num show motivado por ganância e lucro.

As Acrobacias

Os eventos padrão de um rodeio incluem laçar um bezerro, corpo a corpo com um novilho, montar um cavalo e um touro sem arreios, selar um potro chucro e ordenhar uma vaca selvagem.Os animais usados nos rodeios são artistas prisioneiros, a maioria dócil, mas compreensivamente desconfiados dos seres humanos devido ao tratamento áspero que receberam. Muitos desses animais não são agressivos por natureza; eles são físicamente forçados a demonstrar um comportamento selvagem para fazer os cowboys parecerem corajosos.

Os organizadores de rodeios alegam que o animal trabalha apenas por oito segundos, como se não houvesse centenas de horas de treinos não supervisionados, muitas vezes, com o mesmo animal. Eles contestam também que os animais utilizados são selvagens e que pinoteiam por índole. Caso fosse verdade o sedem não seria necessário e o animal não pararia de pular após a retirada do mesmo.

Laçada de bezerro: animal de apenas 40 dias é perseguido em velocidade pelo cavaleiro, sendo laçado e derrubado ao chão. Ocorre ruptura na medula espinhal, ocasionando morte instantânea. Alguns ficam paralíticos ou sofrem rompimento parcial ou total da traquéia. O resultado de ser atirado violentamente para o chão tem causado a ruptura de diversos órgãos internos levando o animal a uma morte lenta e dolorosa.

Laço em dupla/team roping: dois cowboys saem em disparada, sendo que um deve laçar a cabeça do animal, e o outro as pernas traseiras. Em seguida os peões esticam o boi entre si, resultando em ligamentos e tendões distendidos, além de músculos machucados.

Bulldog: dois cavaleiros, em velocidade, ladeiam o animal que é derrubado por um deles, segurando pelos chifres e torcendo seu pescoço.

Ferramentas de Tortura

Agulhadas elétricas, um pedaço de madeira afiado, unguentos cáusticos e outros dispositivos de tortura são usados para irritar e enfurecer os animais usados nos rodeios,com o objetivo de mostrar um "bom show "para a multidão.

Sedem ou sedenho: é um artefato de couro ou crina que é amarrado ao redor do corpo do animal (sobre pênis ou saco escrotal) e que é puxado com força no momento em que o animal sai à arena. Além do estímulo doloroso pode também provocar rupturas viscerais, fraturas ósseas, hemorragias subcutâneas, viscerais e internas e dependendo do tipo de manobra e do tempo em que o animal fique exposto a tais fatores, pode-se evoluir até o óbito.

Objetos pontiagudos: pregos, pedras, alfinetes e arames em forma de anzol são colocados nos sedenhos ou sob a sela do animal.

Peiteira e sino: consiste em outra corda ou faixa de couro amarrada e retesada ao redor do corpo, logo atrás da axila. O sino pendurado na peiteira,contitui-se em mais um fator estressante pelo barulho que produz à medida em que o animal pula.

Esporas: às vezes pontiagudos, são aplicados pelo peão tanto na região do baixo-ventre do animal como em seu pescoço, provocando lesões e perfuração do globo ocular.

Choques elétricos e mecânicos: aplicados nas partes sensíveis do animal antes da entrada à arena.

Terebentina, pimenta e outras substâncias abrasivas: são introduzidas no corpo do animal

Golpes e marretadas: na cabeça do animal, seguido de choque elétrico, costumam produzir convulsões no animal e são o método mais usado quando o animal já está velho ou cansado.

Esses recursos que fazem o animal saltar descontroladamente, atingindo altura não condizente com sua estrutura, resultam em fratura de perna, pescoço e coluna, distensões, contusões, quedas, etc.

Segundo a Dra.Irvênia Prada, que foi por muitos anos Professora Titular da Faculdade de Medicina da USP e tendo mais de uma centena de trabalhos publicados em Anatomia Animal, ao observar as fotos dos animais em plena atividade no rodeio declarou: "os olhos dos animais mostram uma grande área arredondada, luminosa, consequente à dilatação de sua pupila. Na presença de luz, a pupila tende a diminuir de diâmetro (miose). Ao contrário, a dilatação da pupila (midríase) acontece na diminuição ou ausência de luz, na vigência de processo doloroso intenso e na vivência de fortes emoções (medo, pânico..) e que acompanham situações de perigo iminente, caracterizando a chamada Síndrome de Emergência de Canon. No ambiente da arena de rodeio, o esperado seria que os animais estivessem em miose, pela presença de luz. Assim, a midríase que exibem é altamente indicativa de que estejam na vigência da citada Síndrome de Emergência, o que caracteriza o sofrimento mental."

Fazendo Frente ao Mito

Num estudo conduzido pela Humane Society of the United States, dois cavalos conhecidos pelos seus temperamentos gentis foram submetidos ao uso da cinta no flanco. Ambos pularam dando coices até a cinta sair. Então vários cavalos do circuito de rodeio foram liberados dos currais sem a cinta no flanco e não pularam nem deram coices, mostrando que o comportamento selvagem e frenético dos animais é induzido pelos cowboys e promotores dos rodeios.

O Fim da Trilha

O médico veterinário Dr. C.G. Haber, que passou 30 anos como inspetor federal de carne, trabalhou em matadouros e viu vários animais descartados de rodeios sendo vendidos para abate. Ele descreveu os animais como "tão machucados que as únicas áreas em que a pele estava ligada à carne eram cabeça, pescoço, pernas e abdome. Eu vi animais com 6 a 8 costelas quebradas à partir da coluna, muitas vezes perfurando os pulmões. Eu vi de 2 a 3 galões de sangue livre acumulado sobre a pele solta. Estes ferimentos são resultado dos animais serem laçados nos torneios de laçar novilhos ou quando são montados através de pulos nas luta de bezerros." (1)

Os promotores de rodeio argumentam que precisam tratar seus animais bem para que eles sejam saudáveis e possam ser usados. Mas esta afirmativa é desmentida por uma declaração do Dr. T.K. Hardy, um veterinário e às vezes laçador de bezerros, feita à revista Newsweek: "Eu mantenho 30 cabeças de gado para prática, a U$200 por cabeça. Você pode aleijar três ou quatro numa tarde... É um hobby bem caro." (2) Infelizmente existe um fornecimento constante de animais descartados à disposição dos promotores de rodeios os quais tiveram seus próprios animais esgotados ou irremediavelmente feridos. Conforme o Dr. Harber documentou,os circuitos de rodeio são apenas um desvio na estrada dos matadouros.

Escolhas e Oportunidades

Embora os cowboys de rodeio voluntariamente arrisquem-se a sofrer injúrias nos eventos em que participam, os animais que eles usam não têm esta escolha. Em 1986, no rodeio de Calgary em Alberta no Canadá, um dos maiores rodeios da América do Norte, oito cavalos foram mortos ou fatalmente feridos num acidente numa corrida de carroças. Pelo fato da velocidade ser importante em vários rodeios, o risco de acidentes é alto.

Bezerros laçados quando estão correndo a mais de 27 milhas por hora, têm seus pescoços tracionados para trás pelo laço, geralmente resultando em injúrias no pescoço e costas,contusões, ossos quebrados e hemorragias internas. Bezerros ficam paralíticos devido à lesão de coluna vertebral ou suas traquéias ficam parcialmente ou totalmente machucadas.(3) Bezerros são usados apenas em um rodeio antes de voltarem ao rancho ou serem sacrificados devido aos ferimentos.(4)

Os cavalos dos rodeios geralmente desenvolvem problemas de coluna devido aos repetidos golpes que sofrem. Devido ao fato de cavalos não ficarem normalmente pulando para cima e para baixo,existe também o risco de lesão das patas quando o tendão se rompe.

As regras da associação de rodeios não são eficazes na prevenção de lesões e não são cobradas com rigor, nem as multas são severas o bastante para evitar maus tratos. Por exemplo, se um bezerro é ferido num torneio, a única punição é que o laçador não poderá laçar outro animal naquele dia. Se o laçador arrastar o bezerro, ele poderá ser desclassificado. Não há regras protegendo os animais durante as provas e não há nenhum observador objetivo ou exames requisitados para determinar se um animal foi ferido num evento.(6)

Notas

1.Human Society of the United States, interview with C.G. Haber, DVM (Rossburg, Ohio),1979
2."Rodeo :American Tragedy or Legalized Cruelty?" The Animals Agenda, March 1990
3.Dr. E.J. Finocchio, DVM, Letter to Rhode Island State Legislature. Feb. 28, 1989
4."Rodeo Critics Call It "Legalized Cruelty", San Francisco Chronicle, June 25, 1981
5.Lipsher, Steve, "Veterinarian Calls Rodeos Brutal to Stock" Denver Post, Jan 20, 1991
6.Schmitz, Jon "Council Bucks Masloff’s Veto On Rodeo Bill" Pittsburgh Press, Nov27, 1990

Fonte: SUIPA - Sociedade União Internacional de Proteção aos Animais
PETA - People for Ethical Treatment of Animals
Tradução: Luiziania de C.M.de Barros
Banner ilustração - Lenita Ouro Preto - S.O.S Animais

Fonte: Associação Protetora de Animais São Francisco de Assis

Saturday, August 27, 2011

A verdadeira vida no campo


‎"Expointer de Esteio também é uma boa opção para as crianças conhecerem como é a vida no campo", diz a legenda da foto publicada no Correio do Povo de 27/08/11.

A "vida no campo" é uma vida cheia de sofrimento para os animais, que são maltratados e mortos para que nós tenhamos pedaços de seus corpos na nossa mesa (sem necessidade). As crianças estão observando vacas aprisionadas em máquinas, para que o leite (que deveria ser do bezerro) seja retirado mais rapidamente, gerando mais lucros aos "fazendeiros".

Essa é a maneira correta de uma criança conhecer a vida no campo? Será que o pai está explicando aos filhos como a vaca é torturada a fim de produzir o copo de nescau que eles tomam diariamente?

Saiba e veja mais mais aqui, são textos mas pode-se também assistir a um vídeo: A exploração dos animais

Thursday, August 25, 2011

Segura, peão!


Deputado apresenta projeto de lei que proíbe rodeios

O deputado federal Ricardo Tripoli (PSDB/SP) apresentou, na última terça-feira, o Projeto de Lei 2086/2011 que proíbe a perseguição de animais em provas de rodeios. Segundo o texto levado ao Plenário da Câmara Federal, considera-se infrator o responsável da licença, ou alvará, que autorizou a realização do evento em que foram executadas as práticas contra os animais, bem como a autoridade, agente ou servidor que concedeu alvará ou licença para a realização do evento. A multa poderá chegar a R$ 30 mil. Em caso de reincidência, o valor dobrará. Em sua justificativa, Tripoli cita o caso do bezerro que foi sacrificado na última sexta-feira após ficar paralítico durante uma prova na arena da 56º Festa do Peão de Boiadeiro de Barretos, no interior de São Paulo. O peão Cesar Brosco foi o responsável pelo acidente com o animal e acabou sendo suspenso por seis meses pela Associação Nacional de Bulldog (ANB).

Publicado na ISTO É Online, do grupo EDITORA TRÊS, em 25/08/11

ISTO É e EDITORA TRÊS patrocinam rodeios, segundo a lista do site Vista-se:

Empresas que patrocinam o Rodeio de Barretos em 2011

Logo, devem estar preocupadas com a possibilidade de os rodeios serem suspensos e perderem seus investimentos...

Wednesday, August 24, 2011

Adeus ao Zé Gotinha!


                                                                Zé Gotinha, voando pra bem longe...

Vacinação: Ministério da Saúde anuncia o fim do Zé Gotinha

Segundo informações exclusivas obtidas por CRESCER, a vacina Sabin - a gotinha contra a poliomielite oferecida nas campanhas nacionais de vacinação (composta pelo vírus vivo atenuada) vai ser substituída pela Salk (uma injeção com o vírus morto). Esse processo de transição deve ocorrer em até cinco anos. Saiba como isso vai mudar o esquema de vacinação infantil no país

Fernanda Carpegiani

(24/8/2011) - Pode começar a se preparar para dar adeus ao Zé Gotinha, o famoso personagem das campanhas de vacinação nacionais contra a poliomielite, que combate a paralisia infantil. O Ministério da Saúde anunciou, com exclusividade à CRESCER, que o esquema de vacinação contra a pólio vai ser mudado: a vacina oral, a Sabin (composta pelo vírus atenuado, mas vivo) dará lugar a vacina intramuscular, a Salk (feita com o vírus morto). Isso porque a conhecida “gotinha”, por conter o vírus atenuado, oferece um risco, embora muito raro, de a criança desenvolver a doença. A decisão do Ministério segue uma recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) para que os países se preparem para a erradicação da poliomielite no mundo, o que deve acontecer em até cinco anos. No Brasil, a doença já está erradicada, mas com o uso da Sabin sempre há este risco mínimo dela se manifestar.

Os infectologistas Marcos Lago, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro e membro do comitê de Infectologia da Sociedade Brasileira de Pediatria, e Renato Kfouri, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações, adiantaram a CRESCER que essa mudança está prevista para acontecer já no ano que vem, embora o Ministério da Saúde diga que a data ainda não está definida. "A implantação de uma vacina é algo que dura três, quatro anos, pois é preciso garantir a sustentabilidade da produção. O que estamos fazendo agora é a discussão e o estudo de como será feita a introdução dessa vacina", afirma Carla Domingues, coordenadora geral do Programa Nacional de Imunizações do Ministério da Saúde. Em entrevista exclusiva à CRESCER, ela deu mais detalhes de como será essa mudança e como isso vai impactar no calendário nacional de vacinação:

CRESCER: Como vai funcionar o esquema de vacinação quando a Salk for introduzida?

Carla Domingues: Em um primeiro momento, nós vamos fazer um esquema combinado, com as duas primeiras doses de pólio inativada, a Salk, aos 2 e aos 4 meses, e mais dois reforços com a pólio oral (aos 6 meses e aos 15 meses). Depois, a criança continua seguindo o esquema da campanha nacional de vacinação e permanece tomando a Sabin, como a gente faz de rotina. Quando esse esquema for implementado, teremos apenas uma campanha nacional contra a poliomielite.

C: Ela será mais uma injeção que a criança precisará tomar?

CD: Por enquanto, sim, mas depois a Salk vai ser introduzida em uma vacina heptavalente. Primeiro vamos disponibilizar a Pentavalente no ano que vem, que vai ser a junção da atual DTP (que protege contra difteria, tétano e coqueluche) com hemófilos do tipo b (contra meningite) e a hepatite B. Em um segundo momento, daqui a quatro ou cinco anos, vamos ter a heptavalente, que vai incluir ainda a meningocócica C e a Salk, a pólio inativada. Nós não vamos substituir completamente, nesse primeiro momento, a Sabin pela Salk, e sim vamos fazer uma transição - que é este esquema combinado, citado anteriormente -, até o momento em que a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e a Organização Mundial da Saúde (OMS) definam que a doença está erradicada no mundo. Aí sim nós vamos deixar de usar a pólio oral e passa a usar só a inativada, a Salk.

C: E a Salk já será introduzida no calendário no ano que vem?

CD: Existe toda uma discussão técnica e operacional para se definir qual é o melhor momento para fazer essa transição, mas ainda não está definido que será o ano que vem. Porque a gente tem que discutir toda a questão da produção da vacina, de capacitação da rede, de organização para distribuição da vacina, a própria aquisição junto ao laboratório produtor. Então nós ainda não temos um plano definido de introdução. Se em janeiro a gente tiver a garantia de que vai ter a produção da vacina, que os profissionais estarão capacitados, que a rede de distribuição já tem condições de absorver a demanda, aí sim ela vai acontecer no ano que vem. Mas se um desses fatores não estiver pronto, nós não vamos tomar uma decisão irresponsável de introduzir uma vacina como essa, que significa uma conquista da sociedade brasileira (a erradicação da poliomielite), e correr o risco de ter falta de vacina e até de ter a reintrodução da doença no país. A mãe não pode chegar num posto, procurar a vacina contra a pólio e não ter.

Então, há muito tempo falávamos aqui e nas comunidades do orkut Mães Natureza e O lado escuro das vacinas, sobre as gotinhas Sabin serem causadoras de poliomilite vacinal e agora, o Todo-Poderoso Ministério da Saúde, finalmente, resolveu ceder e substituir a Sabin pela Salk.
Claro, que eles não vão acatar publicamente os riscos que todos correram, mas agora, pelo menos, a Salk faz "menos mal" que a Sabin...

Pensei que demoraria muito a ler essa notícia ou talvez nunca a lesse, hoje é um grande dia! Vivaaaaaa!

Aproveitem para pensar a respeito de quais outros fatos são escondidos, de quais outros riscos são atenuados etc e etc...

Sunday, August 21, 2011

A imortalidade da família


Não costumo comentar telenovelas nos meus blogs, mas acompanhei uma boa parte do enredo de Insensato Coração e a cena final, bem como o comportamento de muitos personagens, me levaram a refletir sobre o destino dessa instituição: a família!

Na última cena, acontece uma reunião familiar em que a atriz Nathalia Timberg (citam muito Fernanda Montenegro como referência de maior atriz brasileira, mas, particularmente vejo Nathalia Timberg como a grande dama da interpretação em nosso país) faz um brinde enaltecendo a família, que permanece apesar das várias transformações pelas quais passa, pelas desavenças, pelos desentendimentos que acabam sendo relevados quando as pessoas percebem que o mais importante é manter o vínculo com aqueles que ama.

No enredo da novela, pudemos observar essas transformações, por exemplo:

1) a mãe que descobre que o filho é gay e aceita normalmente, o pai homofóbico que além de descobrir que tem um filho, fica sabendo que ele é homossexual, mas acaba aceitando ambas as novas situações e esse filho que constrói uma união estável com seu companheiro. O núcleo chamado família está em mutação, queiram os mais tradicionais aceitar tal fato ou não;

2) demonstrações exageradas de amor materno, que ajudam a construir o caráter egoísta do filho e a mãe que diz só pensar no bem das filhas, mas tudo o que faz é para que sua família tenha status e assim ela suba na escala social - a mãe sempre foi vista como a figura protetora, mas até onde essa proteção é saudável para os membros do grupo?;

3) um casal que tem um filho e decide não morar juntos, mas mesmo assim pensam que constituem uma família e trocam palavras de amor e carinho - como seria maravilhoso se todos os casais separados pudessem conviver nessa harmonia imaginada pelo autor...;

4) o filho que despreza o pai, que mandou assassinar sua mãe, renuncia a ele e parte para construir sua própria família, já que a sua fora destruída - nem sempre é possível esquecer as desavenças, quando elas envolvem comportamentos cruéis demais;

5) duas pessoas que não querem criar um relacionamento fechado, mas com possibilidades de manter contato íntimo com outros e, mesmo assim, amarem-se e criar uma célula familiar - outra mutação, que pode envolver até a possibilidade de um filho; ao mesmo tempo, a mulher que não aceita infidelidade e quer a segurança que ela imagina ter com um homem mais velho, estável e tradicional, o modelo com quem ela quer criar a sua família, iniciada com o filho de outra relação;

6) o casal formado pelo mocinho e pela mocinha, que passa a novela inteira tentando ficar juntos, para... constituir uma família!

Poderia analisar outros personagens e suas relações familiares para justificar a verdade nas palavras proferidas pela matriarca da família Drumond, ao erguer o brinde que encerrou Insensato Coração, mas deixo essa tarefa para os meus leitores: procurar em cada um deles tal significado. E, possivelmente concluir que, a família pode mudar os papéis de cada membro, reduzi-los até, mas não extinguir-se...

Friday, August 19, 2011

Você doaria um filho que ama?

Tenho certeza que não... por isso não entendo pessoas que doam animais de estimação que dizem "amar de paixão", como escreveu a atriz Solange Couto, após ter um bebê:

“Pessoal, tenho três gatos castrados, vacinados e educados e muito bem cuidados que amo de paixão. O Gordo tem 9 anos, a Preta tem 8 e a Favela tem 5. Preciso de alguém que goste de gatos e queira ficar com eles, não posso mais ficar com eles por conta do meu Benjamim. Estou com coração partido, mas preciso de um lugar para eles”, escreveu Solange Couto em seu perfil no Facebook.

Se alguém pensar que a comparação é um exagero, peço que defina o que é AMOR!

Geralmente, os motivos apresentados são relacionados com a alergia. Leiam aqui:

Famílias que têm pets desenvolvem menos alergias

E gatos não atacam crianças, podem ficar um pouco agressivos, no início, por ciúmes, mas com o tempo vão acostumando-se... basta isolá-los por um período e devagar, levá-los ao convívio com o bebê. O que acontece é que as pessoas não têm paciência nem tempo para fazer isso, o que me faz pensar: sentem VERDADEIRO AMOR pelos bichos que faziam parte da sua vida?

Olhem o que essa criança fez com o rabo do bichano e o comportamento do gato:



E apreciem o comportamento desse cão com outro bebê:



Se pesquisarem no youtube, encontrarão muitos outros videos semelhantes.

Mais um exemplo, um caso verídico emocionante:

Gato salva bebê de hiportemia


Wednesday, August 17, 2011

A rua que lutou para manter-se bonita


Sabiam que a rua Gonçalo de Carvalho, em Porto Alegre/RS, é considerada por muitos como a mais bonita do mundo?

Os motivos para ostentar esse título estão muito bem apresentados no blog Amigos da Rua Gonçalo de Carvalho, que narra a luta para a preservação dessa via profusamente arborizada.

Fico sinceramente emocionada quando lutas desse teor alcançam a vitória, enche meu reservatório de esperança, que costuma estar quase vazio, em vista de tantas injustiças, falcatruas, falta de ética, de honestidade, respeito e outros valores que estão fora de moda. E renova minha energia para continuar denunciando, reclamando, mostrando a sujeira debaixo dos tapetes de gente que acha que impunidade e falta de vergonha na cara devem fazer parte do cotidiano!

Segundo informação que postaram aqui no blog, "muitos desconhecem o que estava por trás da luta da Gonçalo. A mídia nunca destacou os "interesses" econômicos que queriam uma construção com dinheiro da Lei Rouanet em um complexo cultural que após 25 anos seria de propriedade de um grande grupo econômico.
Este trabalho fala nisso:
Cidadãos conectados : a revolução das vozes alternativas

Fico orgulhosa de poder caminhar por essa rua e me deslumbrar com a sua beleza, além de pensar que a energia de muita gente foi investida para que essa beleza natural fosse preservada. Parabéns a todos os que, de uma maneira ou outra, envolveram-se nessa luta!

Nota: a foto que ilustra o post é do blog Amigos da Rua Gonçalo de Carvalho.

Tuesday, August 16, 2011

Blogagem coletiva "Pais na Escola"

Estou republicando esse post, escrito originalmente em 2008, para participar da blogagem coletiva criada pelo blog Futuro do Presente, da Ana Cláudia Bessa, cujo tema é "Pais na Escola".

Para quem também quiser participar, aí vai o link:

Pais na escola - blogagem coletiva
                                                                                           (1)
 Minha filha apanhou no recreio da escola.
 Por ela me transformei em Mãe Voluntária!
 Escrevi esse depoimento há dois anos atrás, quando minha filha entrou para a primeira série do Ensino Fundamental, em uma escola pública.
Espero que ele auxilie aos pais que também estão embarcando nesta viagem.


Ambas ansiosas, eu e minha filha de seis anos, Ísis, vimos o mês de março de 2006 chegar.
Uma nova fase iniciaria em nossas vidas, pois aproximava-se o momento em que ela iria cursar a primeira série numa escola pública.
Meus dois filhos mais velhos estudaram em escola particular e, pelo que recordo, meu envolvimento na rotina dessa instituição resumia-se às reuniões trimestrais, quando ia receber as avaliações das crianças. Escola, para mim, era um local essencialmente cuidado, dirigido e administrado por professores, funcionários e direção e o envolvimento dos pais acontecia nessas reuniões ou quando solicitavam cooperação para organizar festas.
Minha filha caçula é uma criança doce e comunicativa. Desde os três anos, participa de aulas de pintura, música, teatro e dança e gosta bastante de interagir com os colegas. Nessas oficinas, raramente acontecia alguma desavença entre as crianças, apenas aquelas tidas como "normais" em relacionamentos.
Não tinha uma idéia concreta de como era a rotina numa escola pública nos dias atuais.
Estava curiosa para saber.

Confusão no recreio

Primeiro dia de aula é emocionante.
Mochila recém-comprada, cheia de material escolar com cheirinho de novidade, a roupa escolhida na véspera com cuidado.
Medo, ansiedade, curiosidade misturados: como será a professora, os colegas serão novos amigos? Todo aluno em seu primeiro dia de aula fica com a cabecinha repleta de dúvidas e expectativas.
Durante o primeiro mês, Ísis teve os contatos iniciais com os colegas.
Ao chegar em casa, ela me relatava tudo que acontecia na sua manhã na escola e já tinha dito que as crianças de sua turma era muito briguentas e desobedientes, que a professora estava sempre gritando e reclamando, pedindo que se comportassem.
Ela se mantinha um tanto afastada, pois seu temperamento é tranqüilo e costuma obedecer quando solicitada.
O primeiro problema surgiu durante o recreio.
Numa certa manhã, quando fui buscá-la, me contou que apanhara de colegas de sua turma, levando vários pontapés. No pátio, pedira ajuda e não a encontrara. Fiquei espantada ao saber que uma criança apanha, pede socorro e não o recebe, num local onde deveria ser protegida.
Em casa, verifiquei suas pernas e realmente, haviam muitas manchas roxas.
Liguei para o pai dela (não vivemos juntos), relatando o acontecido, mas ele não podia ir à escola no dia seguinte. É claro que eu não deixaria de ir, mal consegui pegar no sono, de tanta pressa para reclamar sobre o caso.
Na outra manhã, fui nervosa falar com a professora.
Os alunos formavam filas na entrada da escola, aguardando o sinal do início das aulas. Assim que a professora chegou, abordei-a. Ela estava bastante chateada com o ocorrido, mas logo percebi que a turma era indisciplinada. Enquanto conversávamos, as crianças ficavam na fila chutando-se e empurrando-se.
Vendo que não resolveria nada ali, decidi procurar a direção, mas era necessário marcar um horário para ser recebida.Voltei para casa preocupada, imaginando se outro episódio de violência iria ocorrer no recreio.
Enquanto aguardava o encontro com a direção, Ísis apanhou novamente de um colega, sendo incomodada por ele dentro da sala de aula. O garoto empurrou sua mesa e ela caiu com a cadeira para trás, estatelando-se no chão. Quando me contou, fiquei fervendo de raiva. Não estava preparada para isso. Eduquei minha filha para ser pacífica, para não agredir e não imaginava que crianças pequenas pudessem ter tanta agressividade dentro de si.
Ia ter que mudar meus conceitos sobre convivência social.

Uma outra realidade

Novamente, mal pude conciliar o sono.
Na manhã seguinte, levantei da cama antes do despertador tocar. Chegando à escola, fui direto às filas e procurei o menino que a empurrara. Perguntei porque ele fizera aquilo e ele ficou evitando meu olhar, mudo. Insisti no diálogo, mas ele permaneceu totalmente calado.
Conversando novamente com a professora, notei que ela continuava aborrecida, mas estava longe de encontrar uma solução para os problemas de indisciplina da sua classe. O menino nem ao menos fora punido, apenas advertido. Eu tinha que tomar alguma atitude mais eficiente.
Antigamente, se você fizesse algo errado dentro da escola receberia algum castigo, poderia ser até expulso. Parece que hoje, os alunos são advertidos de uma forma muito benevolente. Talvez um reflexo do que acontece em outros níveis na sociedade, onde as pessoas cometem crimes e não recebem punição, continuam circulando livremente e repetindo suas safadezas.
Entrei na escola e fiquei andando pelos corredores, para criar uma intimidade que eu não tinha com ela. Então vi duas mulheres conversando, encostadas no corrimão da escada.
O que me chamou atenção nelas era que usavam um crachá onde se lia "mães voluntárias". Me aproximei, perguntando o que significava aquela expressão. Disseram que ajudavam a "cuidar do recreio". Fiquei interessada e contei o que tinha acontecido com a Ísis. Responderam que essa situação era comum, pois a escola possuía apenas uma monitora para atender um grande número de crianças durante o recreio.
Nesses 15 minutos diários, no pátio onde brincam as séries iniciais, participam 9 turmas, sendo que em média cada uma delas tem 20 crianças. Por alto, são quase 200 crianças! Para uma funcionária apenas! Então, pude entender porque a violência explodia nesses momentos.
As mães voluntárias são mães de alunos que, em vista dessa situação, buscavam colaborar com a escola. Mesmo assim, as dificuldades permaneciam, pois sendo em pequeno número, não conseguiam atender a todas as necessidades. Elas se reuniam no CPM (Círculo de Pais e Mestres), numa salinha perto de onde estávamos. Convidada a entrar, aceitei prontamente, pois estava em busca de uma solução urgente e prática.
Para mim, CPM simbolizava "festinha de pais", encontros alegres quando a escola comemorava alguma data. Estava enganada. Na salinha apertada, as mães reuniam-se em volta de uma mesa circular, algumas cadeiras e um computador. Explicaram como funcionava o sistema de auxílio ao recreio: todas as manhãs desciam ao pátio por 15 minutos e ajudavam a manter um mínimo de equilíbrio em toda aquela energia liberada pelas crianças, evitando brigas, protegendo os menores, afastando-os de possíveis quedas das árvores e muros, que teimavam em escalar. Levavam cordas e alguns jogos para os alunos brincarem, mas não podiam fazer nada mais, pois apesar de terem apresentado um projeto com brincadeiras à direção da escola, esta não o havia aprovado, mas também não oferecera nenhuma alternativa para distrair os alunos.

Com a mão na massa

No dia seguinte, comecei uma entusiasmada participação nos recreios diários.
Tornei-me uma das mães voluntárias, aumentando a carga das minhas já atarefadas manhãs. Minha filha sentiu-se segura ao ver minha presença no pátio e pediu para eu ir todos os dias. Logo, fiquei envolvida com as crianças e a tarefa de observá-las tornou-se uma rotina na minha vida. Não vigiava apenas a minha filha, mas os filhos de outras mães que não podiam ou não queriam ali estar.
Na verdade, esta não é uma "obrigação" dos pais, mas tendo em vista que o sistema educacional público está em declínio, por inúmeras causas (a econômica é apenas uma delas), os responsáveis pelas crianças têm que mudar sua maneira de enxergar a escola. Ela não é apenas um "depósito" onde se larga o aluno, esperando que a instituição eduque-o sozinha. Tem que haver participação da comunidade, interesse constante dos pais na situação de seus filhos quanto ao aproveitamento e crescimento como indivíduos e cidadãos.

Logo depois, tornei-me 1a. Secretária do CPM e entrei para o Conselho Escolar.
Minha ligação com a escola aprofundou-se. Certamente, muitos dirão que não têm tempo para serem tão atuantes (mas trabalho dentro e fora de casa, não tenho marido nem empregada doméstica para dividir tarefas), porém acredito que seja uma questão de estabelecer prioridades: considero a educação e a segurança da minha filha extremamente importantes!

O QUE É UM CPM

Segundo o artigo 12, inciso VI da Lei Federal nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996:
Art. 12. Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão a incumbência de:

VI - articular-se com as famílias e a comunidade, criando processos de integração da sociedade com a escola;

É reconhecido um Círculo de Pais e Mestres em cada estabelecimento de ensino estadual e, entre suas atribuições, além do que diz a lei acima, estão:

- auxiliar os órgãos assistenciais e instituições existentes na escola em suas carências;
- colaborar na conservação e recuperação normal do prédio e equipamentos da escola;
- prestar serviços à escola em benefício dos alunos ou do processo educacional;
- representar os interesses dos associados perante as autoridades constituídas, buscando entre outras questões, a melhoria das condições físicas da escola, dos seus recursos humanos e técnico-pedagógicos;
- estimular a transformação da escola em centro de integração e desenvolvimento comunitário.

O Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE/FNDE/MEC) repassa anualmente recursos em dinheiro para escolas, através do CPM. Isto é, essa verba somente será recebida pela escola se a instituição tiver um CPM em atividade. Então, a associação realiza uma assembléia com a comunidade, onde serão escolhidas as prioridades para as quais esse dinheiro será destinado. É mais uma forma de ajudar a escola!

Legenda das fotos:

(1) Ísis e eu, com o crachá de Mãe Voluntária.

(2) No pátio, durante o recreio, as crianças e eu.

(3) Festa Disco, realizada pelo CPM no Dia dos Pais: da esq. p/a dir.: Berê (Pres.), Zilda (Vice), Rudha (aluno) e eu (1ª Secretária)

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Friday, August 12, 2011

A indústria farmacêutica e o uso de cobaias humanas


Cabeça de Turco é um livro fascinante, escrito pelo jornalista alemão Günter Wallraff, na década de 80, quando ele disfarçou-se de turco para viver na Alemanha e sentir na própria pele como era ser discriminado e tratado como escória - "foi necessário usar um disfarce para desmascarar a sociedade; foi necessário mentir e fingir para descobrir a verdade. Continuo, porém, sem saber como um imigrante consegue engolir as humilhações, as hostilidades e o ódio cotidianos. Mas agora sei o que ele tem de suportar e até onde pode chegar o desprezo humano neste país.. Reflexos do apartheid projetam-se aqui entre nós - em nossa democracia".

Ele foi obrigado a trabalhar nos piores empregos disponíveis, preferencialmente, para os turcos: faxineiro do McDonad's, limpando privadas, operário em siderúrgicas insalubres, engolindo pó, inalando fumaça e absorvendo metais pesados, serviços de limpeza e reparação nas áreas expostas à radiação numa usina nuclear e cobaia humana, testando medicamentos para a indústria farmacêutica!
Como na postagem anterior falei a respeito de testes de vacinas em seres humanos, que causam sequelas e até a morte, o livro veio automaticamente à minha cabeça, pois Günther narra sua experiência como cobaia detalhadamente e o quanto essa prática era procurada pelos necessitados economicamente. O desprezo por essas criaturas era tão grande que, grafitado num muro em Disburg/Wedau, lia-se: "Parem de usar animais como cobaias - usem os turcos!"

Recomendo que  leiam a obra -  uma excepcional aquisição de conhecimento verdadeiro. O livro vai muito além da questão dos experimentos químicos com seres humanos, mas é esse o enfoque da postagem, logo, reproduzo algumas passagens sobre a experiência de Günther como cobaia da indústria farmacêutica (em itálico é o texto dele, ipsis litteris):

Conta-me que requisitam muitos estrangeiros - turcos, indonésios, refugiados políticos sul-americanos, paquistaneses - para esse trabalho especial que consiste em servir de cobaia para a indústria farmacêutica. (...) Osman me dá o endereço do Instituo LAB em New Ulm. (...)
Enviam-me para um check-up de rotina. Colhem amostras de sangue, examinam a urina, fazem eletrocardiogramas, tiram minhas medidas, pesam-me. Um médico confere os resultados. (...) Sou aprovado. Estou pronto para o uso. Tomarei medicamentos em forma de pílulas e injeções que, com certeza, me transformarão numa pessoa doente. Obrigam-me a assinar uma declaração de que consinto em submeter-me aos testes. Entregam-me um boletim informativo de cinco páginas escrito em alemão: "Boletim informativo sobre os testes de estudo comparado farmacodinâmico de quatro preparados diferentes combinados com substâncias que contém fenobarbital e fenitoína. (...) Segundo o boletim informativo,"tais medicamentos não são para uma doença comum, mas para epilepsia e convulsões febris nas crianças".
Quase todos os cientistas que não dependem da indústria farmacêutica criticam com violência o uso de semelhantes preparados. A combinação de dois agentes impede uma dosagem adaptada às necessidades individuais dos pacientes. No entanto, médicos inescrupulosos mostram boa vontade para com esses preparados. Poderão ocupar-se menos com seus pacientes. A substância composta fenobarbital pertence à classe dos barbitúricos, drogas que logo criam dependência. Exatamente porque seu uso é perigoso, centenas de remédios contendo barbitúricos foram proibidos nos últimos anos. Trata-se, pois, de medicamentos bastante conhecidos que, na verdade, deveriam ser retirados de circulação. Mas ninguém explica por que ainda devem ser testados.


O teste era programado para onze semanas, os muitos efeitos colaterais informados e as cobaias não podiam deixar o local, pois as coletas de sangue eram feitas de hora em hora.
"Detenção voluntária". São vigiados para garantir que tomem os remédios."A primeira coisa que sinto é que meu campo visual se reduz. Tento olhar para o pátio, mas o sol me ofusca, dói-me a vista. Deito-me na cama, sonolento e apático. De hora em hora vou como um sonâmbulo para a coleta de sangue. Os outros também estão pálidos e abatidos. (...) No dia seguinte encontro-me num estado ainda mais lastimável. Esses testes são absurdos, pois já se conhecem todos os efeitos colaterais. Já os sentimos: vertigem violenta, fortes dores de cabeça e distúrbios de percepção, além de estupor permanente. A gengiva sangra muito.
Não contam nada aos funcionários, com medo de não ser aceitos em outros testes.
Depois do teste, todos os participantes ficaram meio "abobalhados". Alguns caíam sem conseguir ficar em pé e precisavam ser carregados. No entanto, no boletim informativo, onde lia-se "efeitos colaterais" havia uma cruz assinalando "não"...

Depois dessa "primeira série" - isto é, depois de 24 horas - decidi interromper o teste. Eu deveria ficar "aquartelado" ainda mais tres vezes nas onze semanas seguintes. Com os efeitos colaterais agravando-se. (...) Abandonando os testes antes do término, não recebo um centavo.
Para Eberhard Greiser, professor da Universidade de Bremen, "aproximadamente dois terços deses estudos farmacológicos são desnecessários. São estudos que têm propósitos comerciais e não há nenhuma relação entre sua utilização e as despesas que acarretam".
Existem "cobaias profissionais' que testam medicamentos para empresas diferentes, ao mesmo tempo, o que já acarretou mortes pelas quais ninguém quis responsabilizar-se. Uma cobaia do LAB, furtivamente me dá o endereço de outro laboratório, o Bio-Design, em Freiburg. (...) Trata-se de uma substância chamada mesperinon, antagonista do aldosteron. É um mineral corticóide que influi no sistema hormonal. Já está sendo comercializado um produto desse tipo pertencente ao grupo dos espironolactons. Sabe-se que o uso prolongado dessa substância provoca uma espécie de... digamos... efeminação, ou seja, um desenvolvimento de seios nos homens. Mas isso não acontece com um uso terapêutico de duas semanas. - E isso é seguro? - pergunto. - É o que esperamos. Mas esse é exatamente o objetivo do teste. Nunca se tem certeza com essas coisas - responde a moça.
- E se acontece, depois some?
- Claro - diz ela, tranquilizando-me. - Tudo volta para o seu devido lugar.
É evidente que está mentindo. Uma ginecomastia - nome correto na linguagem médica para a formação de seios nos homens - só é removida por cirurgia Pelo menos essa é a opinião unânime dos especialistas. (...) Felizmente posso me reservar o direito de recusar tal proposta tentadora e a soma oferecida pela Bio-Design. Outros, contudo, não podem fazer o mesmo. Firmas como a LAB e a Bio-Design lucram com a crise econômica, que obriga mais e mais pessoas a procurá-las. (...) Pude sentir na pele os efeitos colaterais que, segundo me diziam, aparecem muito "raramente". Ao regressar dessa viagem pelos laboratórios farmacêuticos, minha gengiva inferior começou a inchar e supurar. O dentista diagnosticou "gengivite" e, presumindo corretamente, perguntou-me: "O senhor tem tomado algum remédio à base de fenitoína?" Respondi que sim, e ele, relacionando o efeito colateral com minha suposta doença, perguntou de imediato: "O senhor é apilético?"


Cabeça de Turco - uma viagem nos porões da sociedade alemã
Günther Wallraff - Editora Globo, 1985

Mortes e sequelas em testes de vacinas


Adoro a Wikileaks... mostrando a sujeira varrida para baixo do tapete dos "donos do mundo"...


Wikileaks: multinacional farmacêutica conspirou para evitar julgamento na Nigéria
10/12/2010

A multinacional farmacêutica Pfizer negociou em abril de 2009 com o governo da Nigéria um acordo para evitar ser processada pela morte de 11 crianças e pelas sequelas provocadas em dezenas de outras, após testar um medicamento chamado Trovan, usado no tratamento da meningite. O fato foi revelado por um documento vazado pelo Wikileaks nesta quinta-feira (09/12).

Em 1996, cerca de 200 famílias de Kano, estado no norte da Nigéria, garantiram que seus filhos receberam o medicamento de forma experimental e, após a morte de 11 crianças, a companhia norte-americana pagou indenizações aos pais das vítimas para evitar um julgamento.

Despachos da Embaixada dos Estados Unidos em Abuja revelaram como a Pfizer conquistou esse acordo, usando detetives para coletar provas contra membro do judiciário nigeriano e publicá-las na imprensa. De acordo com os documentos, o plano deu certo e o procurador-geral do país, Michael Aondoakaa, acusado de corrupção, abandonou o caso.

Pfizer indeniza famílias nigerianas por mortes e sequelas em testes de vacina
11/08/2011

A multinacional farmacêutica Pfizer pagou 175 mil dólares a cada uma das primeiras quatro famílias afetadas por um teste realizado com uma vacina para meningite em um acampamento em Kano, na Nigéria, em 1996. A experiência do laboratório deixou 11 crianças mortas e cerca de cem delas tiveram sua saúde de alguma forma afetada.

Essa indenização faz parte de um acordo extrajudicial firmado em 2009 entre a Pfizer e o governo de Kano, na região norte do país, depois de dois anos de análise do material genético das vítimas. Além do dinheiro, a empresa se comprometeu a patrocinar projetos para desenvolvimento da saúde em Kano e a criar um fundo de 35 milhões de dólares para compensar os afetados.

Além de testar medicamentos em animais, também estão testando em seres humanos... quem quer ser cobaia? Observem que o fato aconteceu na África, similar à situação abordada em O Jardineiro Fiel - aliás, filme imperdível!


Fonte das informações:

Pfizer conspirou para evitar julgamento

Pfizer indeniza famílias por danos com testes



Monday, August 8, 2011

Incentivando a amamentação natural


Lançada nos Estados Unidos recentemente, uma boneca que incentiva a amamentação causa polêmica: alguns acham que ela despertaria a sexualidade precoce nas meninas, mas penso que coisas como a dança do tchan e outras imagens fazem isso com mais afinco! Segundo Dennis Lewis, representante da marca Berjuan, que fabrica o Breast Milk Baby, o produto permite que as meninas brinquem de cuidar do bebê de forma natural, em vez de usar mamadeira, como em outros brinquedos do tipo.

"As meninas podem aprender mais uma forma de cuidar de um bebê, assim como se estivessem trocando, dando banho ou ninando", disse Lewis em comunicado.

Se querem tanto divulgar a amamentação natural porque ensinar as meninas a alimentar seus bebês com mamadeiras?

A discussão sobre a boneca parou no programa do apresentador de TV Bill O'Reilly, do canal de notícias Fox News, de grande audiência nos Estados Unidos.

O'Reilly afirmou que a boneca não é apropriada. "Só quero que as crianças sejam crianças", disse ele, enquanto um convidado do programa dizia que o brinquedo o deixava "horrorizado".

A fabricante da boneca respondeu dizendo que o canal de TV apoia grandes empresas que querem que os bebês se alimentem com fórmulas infantis, "ainda que a ciência já tenha demonstrado os benefícios do leite materno". Disse ainda que a boneca é feita para ensinar às meninas que a maneira mais natural de alimentar um bebê é a amamentação.

Visitem The Breast Milk Baby para quem conhecer mais detalhes e/ou comprar a boneca:

Saturday, August 6, 2011

Vovó Faz 100 Anos

Minha avó está completando, hoje, 100 anos de vida!


Raras são as pessoas que estão chegando a essa idade, o mundo tornou-se um lugar insalubre para viver, são tantas as agressões que a maioria das pessoas tem doenças graves e crônicas e não resiste. Talvez alguns digam que, pelo contrário, atualmente as pessoas vivem mais, mas retruco: com qualidade de vida? Cumprir uma rotina de hospitais, médicos, exames invasivos, dezenas de remédios, não me parece que tenha alguma relação com Vida...

Mas, minha avó é uma pessoa saudável e alegre, um tanto desmemoriada quanto ao presente, mas as histórias que conta do passado são interessantes. Leonina, vaidosa, foi uma artista. Na juventude, quando seu pai tinha um cinema no interior, ela animava os filmes mudos, tocando piano. Ela ainda toca, canta e recita poemas inteirinhos, com o estilo dramático que declamavam antigamente. Festeira, adora dançar e teve um namorado há poucos anos atrás, só não casou pela terceita vez porque foi impedida!
Teve muitos filhos, o que lhe proporcionou fartura de netos, bisnetos e tataranetos. Um destes filhos, nasceu com síndrome de Down, numa época em que crianças com esse diferencial eram escondidas e não tinham possibilidades de aprendizado. Ella nunca teve vergonha e desfilava com ele, faceira, orgulhando-se da sua cria.

Mora numa cidade distante, por isso hoje não pude estar ao seu lado nesse dia importante, impossibilitada de viajar.
Porém estou me sentindo muito próxima a seu sorriso contagiante, seus olhos azuis brilhantes, sua figura ainda esbelta e navegando nas lembranças que guardo dos momentos que passamos juntas. Uma das melhores é sobre a época em que ela morou numa ilha, onde ficava a estação retransmissora da Rádio da Universidade; meu avô era o responsável pela manutenção e eles residiam numa casa enorme, para onde íamos todos os fins de semana, atravessando o rio (agora lago) Guaíba numa velha lancha. Foi lá que quase me afoguei, que comi muito macarrão caseiro, que andava de pés descalços na lama, que brincava de tocar partituras no piano, que comecei a ler escondida os lívros espíritas (a família era rigidamente católica, mas ela ousou casar, pela segunda vez, com um homem que praticava "essa religião esquisita"...). Ficou viúva do primeiro marido ainda jovem, tinha menos de 30 anos e trabalhou muito para manter a filharada.

Gostaria de vê-la apagar 100 velinhas num bolo! Sinto respeito e amor pelas raízes que ela simboliza, que me estabilizam e apóiam, de ser descendente dessa italiana forte e bem-humorada, Marina Notari Noronha - beijos e abraços, vó!


As fotos são recentes, tiradas há dois anos - elas estava linda, toda de branco, declamou poesias que aprendeu na infância e depois, tocou uma série de tangos ao piano.

Wednesday, August 3, 2011

A indústria farmacêutica

Bisfenol A - você sabe o que é isso?


França - O parlamento francês voltou a debater o bisfenol A no país. Esta semana um relatório do senador Gilbert Barbier publica a proposta de rotular produtos que contenham desreguladores endócrinos em sua composição. O objetivo é informar melhor os consumidores e preservar mulheres grávidas e bebês, os mais vulneráveis aos químicos encontrados em embalagens de alimentos e mamadeiras feitas de plástico.

O bisfenol A é usado na fabricação do plástico e no revestimento interno de latas de bebidas e de alimentos. Segundo pesquisas, pode provocar puberdade precoce, câncer, alterações no sistema reprodutivo e no desenvolvimento hormonal, infertilidade, aborto e obesidade. Por conta disso, já foi proibido na União Europeia, no Canadá, na China, na Malásia e na Costa Rica. Onze estados americanos também já vetaram o BPA em mamadeiras e copos infantis.

Segundo Barbier, é importante proteger as mulheres e os bebês das ameaças dos químicos desde o início da gestação. “Reduzir a exposição pré-natal, ou seja, o bebê e sua mãe desde a concepção até os primeiros anos de vida, deve tornar-se um objetivo”, disse o autor da proposta. Para ele, em certos momentos, como durante a gravidez, “não é a dose que faz o veneno, mas o momento da exposição.”

O relatório destaca que desreguladores endócrinos não satisfazem a relação linear entre a quantidade e a nocividade do produto. Doses muito baixas podem causar efeitos significativos (ou vice-versa). As ações podem ser acumulativas ou potencializadas por outros químicos. Uma vez que muitas incertezas permanecem sobre os mecanismos de ação, o senador Gilbert Barbier também defende a necessidade da realização de mais pesquisas.

E no Brasil?

No Brasil, a proibição do químico está em discussão no Congresso. Em junho, Piracicaba se tornou a primeira cidade brasileira a proibir o bisfenol A, faltando apenas a sanção do prefeito para a lei entrar em vigor. Duas outras cidades, Americana e Sorocaba, também protocolaram projeto de lei semelhante.

Em abril, a Justiça determinou à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) que regulamentasse em 40 dias a inclusão de um alerta sobre a presença da substância nas embalagens dos produtos. A agência conseguiu prorrogar o prazo até agosto e está recorrendo da decisão. O relator do recurso acolheu o pedido da Anvisa de suspensão da liminar. Caberá ao juiz julgar a questão pelo mérito, ou seja, definindo a procedência ou não do pedido do Procurador Geral dos Disreitos do Consumidor do Estado de São Paulo, Jefferson Dias, após a produção de provas no processo.

A Anvisa defende a ideia de que já está estabelecido um limite de migração seguro e que a proibição do BPA em outros países foi só para produtos infantis.

Fonte: Francesoir – 15/07/2011