Conto que enviei para um concurso de contos de terror para jovens, da Câmara Rio-grandense do Livro de POA, dia 29/07/11 - guardando para confirmar a autoria, pois o conto sendo ou não aprovado, será o ponto inicial (o piloto) de um livro!
O primeiro beijo
Pseudônimo: Doce vampiro
Meu nome é Tânia.
Tenho 15 anos.
Moro com minha mãe numa casinha em um bairro tranquilo.
Estudo em uma escola que fica perto da minha casa.
Acabei de entrar para o primeiro ano do Ensino Médio.
Tenho dois gatos que vivem no quintal e na minha cama.
Sou uma bruxasub.
Calma, vou explicar o que é isso...
Há séculos atrás, minhas ancestrais que eram feiticeiras na França foram perseguidas e condenadas à morte na fogueira. Nessa época, ocorreram muitos assassinatos de mulheres inocentes que, simplesmente, praticavam a magia com o auxílio da Natureza, realizando rituais e cultuando vários deuses. Mas existia também o outro lado, o escuro, a prática do mal através da magia negra, pelos seguidores do Caminho da Mão Esquerda.
Para escapar da morte, muitas mulheres e suas famílias fugiram e esconderam-se nas montanhas, pois lá existiam grutas que levavam a caminhos subterrâneos e secretos. Na escuridão, eles criaram um novo lar e adaptaram-se à ausência da luz do sol e do contato com outras pessoas. Um rio gelado cortava essas profundezas e era dele que, praticamente, tiravam o seu sustento. A falta de alguns nutrientes e da luz solar tornou-os anêmicos e com a pele muito alva, quase transparente.
Após muitos anos, uma das bruxas decidiu que era hora de sair daquele esconderijo e voltar a viver na superfície. Pegou sua filha pela mão e iniciaram a subida lentamente. À medida que a luz ia se infiltrando pelas fendas das rochas, elas paravam para acostumar-se com a luminosidade.
E quando, finalmente, chegaram à superfície, tiveram que esperar até que o sol não produzisse mais dor ao tocá-las. Envolvidas em panos negros para protegê-las, entraram em uma floresta e ali construíram uma cabana que chamaram de lar.
Vânia, filha de Selma, a bruxa fugitiva, cresceu e casou com um dos moradores da região. Mudou-se para uma cidade vizinha, mas levou consigo os ensinamentos de bruxaria que Selma lhe transmitira. Assim continuou, com a filha de Vânia, Jeanne, engravidando de uma menina chamada Selena, que teve uma filha cujo nome era Morgada, até que há 40 anos atrás, nasceu Monique, minha mãe. Naturalmente, ela me transmitiu seus conhecimentos e por isso, sou uma bruxasub.
Antes que esqueça, devo contar que minhas ancestrais que ousaram escapar das trevas subterrâneas, encontraram inimigos bem mais poderosos do que aqueles que as queimaram em fogueiras. Nas florestas onde se estabeleceram, também viviam os mefistólis, praticantes de magia negra que haviam chegado a um grau tão alto de desenvolvimento mágico que possuíam outra forma física, mas conseguiam ocultá-la, aparentando humanidade. Essa forma era muito repulsiva e mostrava todo o mal que era concentrado para criá-las. Com a camuflagem, ninguém desconfiava que as maldades e crimes que ocorriam na região, eram por eles cometidos.
Eles são cruéis pelo simples prazer de despertar o horror nas pessoas: arrancam olhos, mutilam corpos, sugam o sangue das veias e matam sem piedade. Assim podem propagar a maldade, o que lhes traz muito poder. Nós, as bruxassub, não temos como percebê-los, mas se por acaso desconfiarmos de conviver com um deles, temos uma forma de identificá-los, através de uma erva – a hortelã. Se eles a ingerirem ou tocarem, enfim, tiverem qualquer forma de contato com ela, perderão a forma humana e mostrarão sua horrível imagem para o mundo, não podendo retornar mais à antiga forma.
Minha mãe está gritando, avisando pela milésima vez que estou atrasada para a escola. Lá vou eu! O portão da escola está quase sendo fechado, mas consigo entrar e corro para a sala de aula.
Sento ao lado de Melissa, minha melhor amiga e dessa posição posso visualizar Louis, o garoto mais lindo da turma e pelo qual sou apaixonada.
Estamos tendo aula de Matemática e minha cabeça começa a ferver com tantos cálculos. Observo os ponteiros do relógio que fica acima da mesa do professor e tento fazer com que eles caminhem mais rápido. Não consigo e vejo que preciso praticar mais minhas lições de magia. Finalmente, a campainha soa e saímos para o pátio. O assunto do momento é o baile que vai acontecer no final do mês. É o solstício de inverno e sempre comemoramos a entrada dessa estação com uma grande festa. Qual vai ser a banda convidada, que roupa vestir, quem vai ser o nosso par, tais dúvidas tomam conta da mente de todos os alunos, principalmente, das garotas.
Melissa e eu tagarelamos como duas aves:
- Você já escolheu o vestido que vai usar? Eu estou em dúvida entre aquele vermelho de veludo que vimos ontem na vitrine da Jolie’s e o preto que poderia copiar das páginas da Vogue.
- Melissa, decididamente, não sei ainda qual o modelo, mas a cor da roupa vai ser preta.
- Então, não vou usar essa cor também, senão ficaremos como um casal de corvos quando nos encontrarmos no banheiro do clube!
- Haha! Na verdade, estou mais preocupada com o meu par – como vou fazer para me insinuar ao Louis e induzi-lo a me convidar?
- Ele não tem uma namorada, você não tem contra quem lutar! Mas é tão tímido e distante que não vai ser fácil, temos que pensar numa tática...
- Que tal o ataque surpresa?
- Talvez seja a melhor opção, já que não temos muito tempo, restam só duas semanas para o baile.
- Quantos minutos faltam para voltarmos à aula?
- Ainda temos dez...
- Vou aproveitá-los.
Sem hesitar, caminhei na direção de Louis, que estava sentado num canto, olhando fixamente para a ponta dos sapatos. Comecei uma conversinha mole, abordando banalidades e larguei, subitamente, a pergunta:
- Louis, você vai ao baile com alguma garota?
- Nem decidi se vou, muito menos se irei levar alguma garota comigo.
- Gostaria de ser o meu par?
Ele me encarou com dois grandes olhos azuis, surpreso e confuso.
Aproveitei aquele momento de indecisão para soltar mais um dardo:
- Tenho certeza que formaremos uma dupla especial.
Ele pareceu pensar alguns segundos, abriu a boca, fechou-a novamente e depois disse apenas: “ok, vamos juntos ao baile!”
O tempo passou e hoje é a grande noite. Vestida com um brilhante e macio vestido de veludo negro, os cabelos presos numa longa trança, a maquiagem pesada nos olhos e na boca e equilibrada em saltos agulha, aguardo a chegada de Louis. Falei com Melissa à tarde e além de fofocarmos sobre a festa, também comentamos sobre o casal de cães vigias da escola que foram brutalmente assassinados. Como nada foi roubado, a Polícia deduziu que os criminosos desistiram de prosseguir o assalto por algum motivo desconhecido.
Mas a conversa foi substituída por algo mais excitante como a possibilidade do primeiro beijo acontecer durante a festa. Como seria: inocente, sensual, com ou sem língua, desajeitado ou vibrante? Mal conseguíamos conter a ansiedade imaginando a emoção de beijar a boca de um garoto...
Bateram à porta e vi Louis pela janela. Desci as escadas devagar e essa calma foi motivada pela necessidade de equilibrar-me no salto altíssimo; na verdade, queria correr! Entramos no seu carro e partimos, rumo à aventura.
Chegamos ao clube no auge da festa, o salão lotado, a música vibrando e a galera dançando animadamente. Pegamos uma bebida e ficamos observando os casais, até que ele me puxou para a pista. Mentalizei, com toda a força do pensamento, que o DJ tocasse uma canção melosamente romântica para que pudéssemos nos abraçar. E talvez os meus poderes tenham ajudado, porque foi o que aconteceu... Dançamos coladinhos e não podia parar de pensar quando seria a “hora do beijo”. Mas antes disso, eu tinha que ir ao banheiro!
Lá encontrei Melissa e trocamos confidências: qual de nós tinha beijado? Ela, já! Atirei um turbilhão de perguntas sobre minha amiga e estranhamente, o que mais a preocupou na hora fatal fora o seu hálito; medo e vergonha de estar com um bafão! Para prevenir, peguei o spray da sua bolsa e borrifei minha garganta, meus dentes, minha língua, me envolvi numa nuvem de dentifrício bucal!
Louis me aguardava perto da sacada e ficamos ali, apesar do frio intenso. Bem protegidos por grossos casacos, nos abraçamos. E quando percebi, nossos lábios se tocaram. Mal podia respirar de tanta emoção e pela exagerada dose de spray de hortelã que ingerira. De olhos fechados, abri a boca e movi a língua, mas senti algo estranho, uma movimentação agitada no corpo de Louis, como se ele estivesse tendo um ataque epilético. Abri os olhos e comecei a gritar quando vi que o lindo garoto de olhos azuis que eu amava estava transformando-se num... mefistóli!
2 comentários:
Vera, obrigado pela visita no meu blog, e pela dica de erros gramaticais. Muitas vezes escrevo as pressas e não da tempo de ler e reler, então perdoe os erros...rs. Mas recebo com todo carinho a critica.
Fiquei meio indeciso em qual dos blogs comentar. Passei aqui, lerei e volto com calma para falar dos textos.
Espero sua visita mais vezes.
Abração
Rafael
Rafael, espero que tenhas aceito mesmo minha crítica como construtiva... rs Vamos trocar comentários, então, porque voltarei a visitar o teu blog, abraço!
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