domingo, 14 de setembro de 2008

Noivas de Frankenstein


Quando caminho pelas ruas, ando de ônibus, circulo pelos shoppings e parques, vou ao cinema, teatro e à feira ou na calada da noite, sou uma atenta e meticulosa observadora.
Misturada à multidão, encho os olhos e a mente da mesmice que movimenta-se à minha frente.
E uma das rotinas que mais tenho notado, entre as mulheres principalmente, é o perigoso e acrobático uso de sapatos de plataforma. Me impressiona a ginástica que moças e senhoras (e até algumas crianças!) executam para equilibrar-se naquele pedestal, além do esforço hercúleo que devem dispender para levantar o peso do artefato a cada passo.
Sim, sei que a vaidade grita mais forte do que o senso de estética ou a preocupação com o bem-estar da coluna vertebral.
Se querem ser mais altas, qualquer sacrifício é aceito para terem medidas de modelo, já que a indústria da moda pede que a cada ano, sejam maiores.
Particularmente, não tenho tal necessidade, pois sinto-me bastante satisfeita com meus 1,74 metros, mas lembro que na adolescência isso me causou muito sofrimento, já que não era hábito as garotas sonharem em ser top models. Então, eu era considerada uma "girafa", totalmente desengonçada perante minhas colegas com altura brasileira padrão.
Como os hábitos e costumes mudam com o transcorrer do tempo, hoje toda mocinha sonha em ser MUITO alta e se não foi beneficiada pela Mãe Natureza com esse atributo, a solução é a... plataforma!
Culpa dos estilistas, que ditam a moda e obrigam a mulherada a usar modelos estapafúrdios, cores escandalosas, padrões berrantes e otras cositas más, todas saídas das mentes impiedosas desses criadores que, certamente, não estão pensando intensamente na beleza e na saúde das mulheres.
E quando vi, pela primeira vez um sapato desses, me veio logo à mente a criação monstruosa e torturada do dr. Frankenstein, que usava... uma plataforma!
Se os estilistas conseguiram convencer as mulheres que elas ficam elegantes usando esse modelo de sapato, só posso dar meus parabéns ao poder hipnótico destes profissionais, pois iludiram milhares de criaturas no mundo todo.
“A partir de 3,0 cm de altura, o salto aumenta a pressão plantar sobre o dedão e o segundo dedo, deformando essas articulações, encurta a musculatura posterior da perna, aumenta a incidência de entorses e fraturas de tornozelo e pé, pois aumenta o desequilíbrio e diminui a velocidade do passo, fazendo com que a pessoa utilize mais energia para desenvolver uma distância. Há muitos registros de fraturas após quedas por causa de desequilíbrio de salto alto, ou escorregões."
Elegância, beleza, desenvoltura... será que temos nossos próprios conceitos ou somos macaquinhos seguindo a música do tocador de realejo?
Creio que não somos nada independentes em nossas escolhas, pois muitas vezes ao abrirmos algum velho baú com roupas antigas guardadas, damos um grito horrorizado e/ou envergonhado: "como pude usar isso um dia!"

Nenhum comentário: