Saturday, October 31, 2009

Superexposição


Nas aulas de fotografia que tive na faculdade, aprendi que superexposição acontece quando uma foto fica muito clara, brilhante demais, com luz excessiva. Pois acho que é isso que está acontecendo com a maioria das pessoas: todas querem aparecer demais, brilhar demais, competir e concorrer pela atenção da multidão de uma forma exagerada.

Também acho que foi o que aconteceu com a Geyze Arruda, uma garota universitária que foi à aula vestindo um microvestido, quase foi estuprada e teve que sair do local com uma escolta de cinco soldados da Polícia Militar. Como todo mundo hoje tem um celular, gravaram a moça de 20 anos, saindo cercada pelos policiais, enquanto a turba gritava: puta, puta, puta!

O vestido era rosa-choque, o salto 15 e a maquiagem própria para ir a uma balada.

Porque Geyze escolheu essa indumentária para ir estudar numa Universidade, à noite, com uma grande percentagem de alunos homens, com a testosterona em ebulição, provavelmente vindos de um dia cansativo de trabalho e querendo divertir-se?

Não nego o direito e a liberdade de escolher a maneira que qualquer um queira apresentar-se ao mundo. Mas há certas regras subtendidas...

Então, vejamos: quando você vai a um velório, veste-se discretamente, em tons escuros, que denotam tristeza pela perda do falecido.
Quando vai a uma entrevista de emprego, coloca uma roupa neutra, que não interfira com a sua capacidade profissional.
Se vai à uma festa, solta a franga do armário de roupas.
Enfim, uma roupa é um código. Ela expressa alguma coisa sobre a pessoa que a veste: o que ela pensa, o que ela procura, do que ela gosta - e não é questão de ter dinheiro ou não, porque com ele ou sem ele, você irá comprar e usar o mesmo tipo de roupa - apenas a qualidade será inferior ou melhor.

Num palco, permite-se todo o tipo de exagero - afinal, quem está nele deseja brilhar e faz parte da profissão buscar essa exposição.
Talvez as pessoas que não têm acesso a uma vitrine onde possam exibir-se, queiram brilhar em qualquer lugar - mas esquecem dos inconvenientes que vêm junto com a ousadia - piadinhas, mão boba, insultos e até a possibilidade de um ataque sexual, como foi o que quase aconteceu coma universitária.

Mas se ela queria mesmo aparecer a qualquer custo, já conseguiu.
Há vários videos no youtube - do acontecimento e pós-acontecimento - pois ela foi a programas de televisão explicar e contar a sua versão. Quem sabe ela irá participar do próximo Big Brother, ser convidada para posar nua na Playboy ou apresentar um programa de tv - talvez até candidatar-se a vereadora, se o assunto render bastante!

Será que sou beata ou pudica? Penso que sou coerente: que na praia é comum encontrar pessoas desnudas (é tão comum que chega um momento em que as pessoas cansam de ver peitos e nádegas ao ar livre), em festas todo mundo exagera no layout (é festa, né?) e se estou em um local em que há muitas pessoas do sexo oposto e não estou querendo fisgar ninguém nem aguentar piadinhas idiotas ou obscenas, ponho uma roupinha light - pode até ser sexy - mas de uma maneira que não descontrole e agite demais os hormônios de ninguém...

Mais uma coisinha que me ocorreu: as pessoas ainda associam roupa curta, salto alto e maquiagem pesada com prostituição (era o que a massa gritava para Geyse no video - não só homens mas mulheres também) - mas vemos garotas desfilando em passarelas de moda (e fotografando para campanhas de propaganda) com esse look e ninguém grita palavrões a elas... será hipocrisia?

Palavras da Geyse: "Sempre ando arrumada, salto alto e maquiada.
É assim que me vejo.
É assim que eu sou.
Mas, desde aquela quinta-feira, não consigo mais ser quem eu era.
Só me visto de calça e camiseta e a maquiagem, ficou na gaveta".

Ela passou para o outro extremo - agora quer ser uma pessoa apagada, perdida na multidão.
Talvez essa experiência a ajude a encontrar o Caminho do Meio, o ponto de equilíbrio que a faça ser uma pessoa especial e única - ou talvez, ela tenha vindo ao mundo para chocar ou brilhar demais, como um rabo de cometa, que passa rápido e se consome em sua própria luz.

Ou será que vamos chegar a um ponto em que cada um vai ostentar o visual que bem lhe aprouver e o vizinho não vai dar a menor bola, nem reparar? Não iremos mais nos comunicar através de nossas vestimentas - elas voltarão a ser apenas proteção para as intempéries, nos protegendo somente dos males do aquecimento global e dos buracos da camada de ozônio?

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