Minha avó está completando, hoje, 100 anos de vida!
Raras são as pessoas que estão chegando a essa idade, o mundo tornou-se um lugar insalubre para viver, são tantas as agressões que a maioria das pessoas tem doenças graves e crônicas e não resiste. Talvez alguns digam que, pelo contrário, atualmente as pessoas vivem mais, mas retruco: com qualidade de vida? Cumprir uma rotina de hospitais, médicos, exames invasivos, dezenas de remédios, não me parece que tenha alguma relação com Vida...
Mas, minha avó é uma pessoa saudável e alegre, um tanto desmemoriada quanto ao presente, mas as histórias que conta do passado são interessantes. Leonina, vaidosa, foi uma artista. Na juventude, quando seu pai tinha um cinema no interior, ela animava os filmes mudos, tocando piano. Ela ainda toca, canta e recita poemas inteirinhos, com o estilo dramático que declamavam antigamente. Festeira, adora dançar e teve um namorado há poucos anos atrás, só não casou pela terceita vez porque foi impedida!
Teve muitos filhos, o que lhe proporcionou fartura de netos, bisnetos e tataranetos. Um destes filhos, nasceu com síndrome de Down, numa época em que crianças com esse diferencial eram escondidas e não tinham possibilidades de aprendizado. Ella nunca teve vergonha e desfilava com ele, faceira, orgulhando-se da sua cria.
Mora numa cidade distante, por isso hoje não pude estar ao seu lado nesse dia importante, impossibilitada de viajar.
Porém estou me sentindo muito próxima a seu sorriso contagiante, seus olhos azuis brilhantes, sua figura ainda esbelta e navegando nas lembranças que guardo dos momentos que passamos juntas. Uma das melhores é sobre a época em que ela morou numa ilha, onde ficava a estação retransmissora da Rádio da Universidade; meu avô era o responsável pela manutenção e eles residiam numa casa enorme, para onde íamos todos os fins de semana, atravessando o rio (agora lago) Guaíba numa velha lancha. Foi lá que quase me afoguei, que comi muito macarrão caseiro, que andava de pés descalços na lama, que brincava de tocar partituras no piano, que comecei a ler escondida os lívros espíritas (a família era rigidamente católica, mas ela ousou casar, pela segunda vez, com um homem que praticava "essa religião esquisita"...). Ficou viúva do primeiro marido ainda jovem, tinha menos de 30 anos e trabalhou muito para manter a filharada.
Gostaria de vê-la apagar 100 velinhas num bolo! Sinto respeito e amor pelas raízes que ela simboliza, que me estabilizam e apóiam, de ser descendente dessa italiana forte e bem-humorada, Marina Notari Noronha - beijos e abraços, vó!
As fotos são recentes, tiradas há dois anos - elas estava linda, toda de branco, declamou poesias que aprendeu na infância e depois, tocou uma série de tangos ao piano.
2 comentários:
Eu sou suspeita pra falar, pois sou descendente, mas essa vó é uma figura, ehehehe!!!
À frente do seu tempo, maravilhosa, engraçada, e linda, sempre foi pelo que vi em fotos de quando nova, mas é até hoje, uma velhinha linda!
Orgulho de descender dela!!!
Também tenho orgulho de ser fruto dessa árvore! Beijo!
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