quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

A enganação da GVH

Anúncios em revista de culinária de 1990, mostravam uma intrínseca ligação entre deliciosos pratos e saúde:







A mágica para criar tais gostosuras saudáveis:



Ela mesma: a vilã cujo consumo nos foi recomendado por muitos anos, inclusive como alternativa mais saudável a outras gorduras:



"Desconfie dos alimentos sequinhos, aqueles que são fritos, mas não ficam oleosos.

A receita desse "milagre" chama-se gordura hidrogenada e, ao contrário do que pensa a maioria, faz muito mal à saúde.

Estudos recentes mostram que esse tipo de gordura é pior que a saturada - de origem animal - do ponto de vista cardiovascular.

A causa: ela "plastifica" os vasos levando a infartos e derrames.
A gordura hidrogenada é uma gordura vegetal que foi criada pela indústria para ser uma alternativa à gordura saturada, a do bacon, da lingüiça, da picanha, etc.

Como não existe gordura no mundo vegetal - somente óleos - foi criado, então, um processo de transformação desses óleos vegetais em gordura sólida.
Aí, começa o problema.

Os óleos são colocados em uma câmara com gás hidrogênio - daí, o nome hidrogenada - com alta pressão e alta temperatura, e o resultado não seria bem visto - e muito menos comido - por ninguém.

Os óleos se transformam em uma pasta preta, com mau cheiro, que precisa ser alvejada para ficar sem cor e desodorizada para ficar sem cheiro.

"Ela deixa tudo crocante porque solidifica nos alimentos após a fritura, formando uma casquinha.
Isso acontece também nos vasos que ficam impedidos de dilatar", esclarece a endocrinologista Rosina Erthal Vilella, que pesquisa o assunto há anos e explica o mal que faz essa gordura, também chamada de "TRANS".

Alguns alimentos que contêm gordura hidrogenada:

- Biscoitos: praticamente todos, principalmente os recheados e os waffer;
- Chips;
- Batata-frita: tanto as de pacote quanto as de fast-food;
- Tortas e bolos prontos e semi-prontos (ficam bem fofos);
- Pães: principalmente os de massa doce;
- Sorvete: a grande maioria, até mesmo os light - o sorvete hidrogenado
é mais espumoso;
- Chocolate: cuidado com os diet, pois são os piores;
- Leite: os achocolatados prontos;
- Margarina: quanto mais dura, pior;
- Fast-food: usam essa gordura para todas as frituras porque ficam crocantes;
- Requeijão: os que são muito cremosos;
- Pipoca de microondas;
- Temperos prontos em tabletes ou em pó.

As conseqüências do consumo desenfreado de gordura hidrogenada são
pouco divulgadas no Brasil.

O mesmo, porém, não tem ocorrido nos países desenvolvidos.

Em 1994, epidemiologistas da Universidade de Harvard atribuíram ao consumo da gordura hidrogenada até 100 mil mortes prematuras por ano nos Estados Unidos.

Desde essa época, eles pediram ao Foods and Drugs Administration (FDA) - órgão regulador de alimentos e medicamentos dos EUA - alterações nos rótulos nutricionais que informassem aos consumidores o quanto de gordura trans continha cada alimento. Nada foi feito.

Cientistas relacionaram o consumo dessa gordura vegetal a doenças metabólicas, ou à chamada Síndrome Metabólica - aumento da cintura abdominal, diabetes tipo 2, alterações dos lipídeos sangüíneos, hipertensão arterial e esteatose hepática (fígado gorduroso).
A descrição dessa síndrome - inicialmente chamada de Quarteto da Morte, em 1984 - coincide com o início do uso maciço dos hidrogenados pela indústria alimentícia americana.

O epidemiologista-chefe da Escola de Medicina de Harvard, Walter Willet, diz no site www.transfreeamerica.org que a introdução dos hidrogenados na alimentação foi o maior desastre da história
alimentícia nos EUA.
Em 2001, foi divulgado um estudo - feito em 84 mil enfermeiras, durante 14 anos - no qual ficou confirmado que a principal gordura relacionada ao diabetes e ao aumento do colesterol e triglicerídios era a hidrogenada.

No ano seguinte, cientistas americanos pediram um novo estudo. Queriam que ficasse claro o quanto de gordura hidrogenada uma pessoa poderia consumir por dia, sem prejudicar sua saúde.

O resultado foi surpreendente: zero.

Há relatos também da associação de hidrogenados com vários tipos de câncer."

Toda gordura vegetal no mercado é hidrogenada. Quando lemos "gordura vegetal", ela é parcialmente hidrogenada; quando lemos GVH, é totalmente hidrogenada.
Ácidos graxos-trans estão presentes nos produtos industrializados: margarinas, gorduras vegetais hidrogenadas e óleos comerciais.
Os termos "gordura vegetal", "gordura vegetal hidrogenada", "banha vegetal", "gordura vegetal saturada", são equivalentes e significam que se trata de óleos vegetais que foram alterados por processo de hidrogenação, gerando gorduras "trans", que são altamente prejudiciais à saúde. Estas formas "trans" se apresentam em quantidades variáveis, perfazendo até 22% do recheio de bolachas tipo waffer (estudo levantado no Paraná). A ANVISA quer que as indústrias reduzam esses teores ao mínimo tolerável (0 a 1%), mas isso é difícil porque as indústrias resistem a ter que reduzir lucros e aumentar os preços. As plantas (sementes, especialmente) têm gorduras oleosas (líquidas), sendo que algumas gorduras, como as de côco e chocolate, têm mais graxas semi-sólidas. A característica física de oleosa de uma gordura é devida à maior presença de ácidos graxos insaturados. As gorduras mais sólidas possuem mais ácidos graxos saturados.
Então, pela lógica, se é hidrogenado, também é trans.



Publicado em 2006: A partir do próximo ano, os rótulos dos alimentos deverão informar o consumidor sobre a quantidade de gordura trans, a mais nociva de todas as gorduras. Criada para dar mais sabor aos alimentos, essa gordura também melhora a consistência e prolonga o prazo de validade dos mesmos. Presente em inúmeros alimentos industrializados, ela é um importante fator de risco para infartos, derrames, diabetes e outras doenças.
A Organização Mundial da Saúde - OMS estabelece que a ingestão diária máxima de gordura trans não deve ser superior a 1% das calorias diárias ingeridas. Numa dieta de 2.000 calorias, por exemplo, isso equivale a 2,2g de gordura trans. No Brasil, o consumo médio desse tipo de gordura chega a 3% do total calórico diário (6,6g de gordura trans), o equivalente a 1 porção grande de batata frita de fast food ou 4 biscoitos recheados de chocolate.


Então, somente em 2006, os estragos da GVH começaram a ser mostrados e comentados aqui no Brasil... vejam por quantos anos fomos prejudicados pela indústria alimentícia - a hidrogenação foi inventada em 1901 pelo químico alemão Wilhelm Norman e em 1909, a multinacional Procter & Gamble adquiriu a patente americana desse processo; já em 1911 surge o Crisco oil, um dos primeiros produtos hidrogenados para consumo popular, feito a partir de semente de algodão, misturado com gordura animal - !

Um texto de qualidade:
http://www.umaoutravisao.com.br/gvhnovo.html

2 comentários:

Mariana disse...

Espantoso, Vera!
No começo do artigo, ao ver as fotos, me lembrei de uns exemplares de uma revista de culinária muito conhecida que tem aqui em casa, dessa época.
Muito obrigada pela ótima informação. Apesar de conhecer em parte os efeitos nocivos da GVH, sempre é bom ler e acrescentar conhecimentos aos que já tenho.

Vera Falcão disse...

É, agora têm sido feitas muitas críticas à GVH, mas na época das fotos seu consumo era incentivado... e, realmente, era uma revista de enorme circulação e considerada como uma das melhores na área.
Morrocoy, esse é apenas um dos produtos industrializados que consumimos no dia-a-dia e que nos prejudicam, apesar de a propaganda omitir seus efeitos negativos e enaltecer a aparência. Por isso, temos que estar alertas, com os olhos bem abertos!