segunda-feira, 20 de abril de 2009

Os transgênicos e a razão política



A Alemanha decidiu, nesta semana, seguindo a Áustria, a França, a Hungria, a Grécia e Luxemburgo, proibir o cultivo do milho transgênico da variedade MON810, produzido pela Monsanto. A medida contraria a Comissão Europeia, que se empenhara antes em pressionar a Áustria e a Hungria a rever a proibição. No México, o país de maior consumo humano do milho, os transgênicos já foram vetados.

É significativo que a Alemanha assuma o combate a uma das variedades transgênicas, porque o país sempre esteve na vanguarda das experiências bioquímicas. Se, como assegura a ministra Ilse Aigner, a decisão é técnica, e não política, podemos ter a esperança de que o bom senso prevaleça na discussão do tema.

Seria insensato deixar de pesquisar as combinações genéticas. Elas sempre existiram na natureza, em processos aleatórios naturais, o que explica a evolução das espécies, no decorrer de milênios ou de milênios de milênios. Uma coisa seria a aceleração desse processo, mediante a ciência; outra é a introdução na gênese da planta de vetores estranhos, portadores de elementos também a ela estranhos, a fim de torná-la resistente a herbicidas produzidos pela mesma indústria que altera as sementes. Além do desequilíbrio da biodiversidade, com o extermínio de todas as plantas naturais na terra atingida, os agrotóxicos envenenam o solo, as águas e os homens.

O que assusta, nestas experiências, é o fato de que elas se fazem sobretudo por empresas capitalistas, com objetivos apenas de altos lucros. Não há nelas nenhum objetivo altruísta, como a de matar a fome do mundo.

A indústria química se desenvolveu, no século 19, a partir da Bayer, fundada em 1863, em Wupertal e instalada depois em Leverkusen. Sua pretensão sempre foi a de se tornar um sucedâneo lucrativo da natureza.
Talvez não haja ambição de poder maior do que o da bioquímica aplicada, porque ela o disputa com as leis do universo.
O que aterroriza no desempenho da indústria bioquímica é a sua associação ao poder político.
A Bayer, como sabem todos os historiadores do século passado, foi a cabeça do consórcio IG-Farben, sustentáculo e xifópago do nacional-socialismo.
Sua principal concorrente é a Monsanto, cuja história não é muito diferente. Foi fundada em 1901, em St.Louis, nos Estados Unidos, para produzir inicialmente sacarina e cafeína. Entre outros crimes de que foi cúmplice, a Monsanto produziu o agente laranja (composto de dois herbicidas, o 2,4D e o 2,4,5-T), cujos efeitos sobre os seres humanos no Vietnã perduram até hoje, com o nascimento de crianças com os órgãos genitais no rosto, sem pernas, sem olhos. Tanto para a Bayer quanto para a Monsanto – e empresas menores – o cultivo dos transgênicos só tem um objetivo, o de produzir grandes lucros, com as sementes e os agrotóxicos. A experiência demonstra que, a cada geração de cultivares transgênicos, cresce o volume do herbicida aplicado na terra, para obter o mesmo resultado.

No próximo sábado, a Comissão Nacional de Biotecnologia deverá reunir-se, com o propósito, já decidido, de liberar o cultivo de 50 variedades transgênicas.
Seu presidente é o médico Walter Colli, que se identifica como “um cientista de muita reputação”, e confirma, orgulhoso, ser “muito respeitado” conforme declarou ao Estado de S.Paulo.
A Comissão, com o apoio do Parlamento, movido pelo agronegócio, mudou o quorum de deliberação, de dois terços para maioria simples, a fim de permitir o cultivo de transgênicos, sobretudo do milho Liberty Link, da Bayer, rejeitado em 2006.
O senhor Colli tanto se esmera na “modéstia” com que se apresenta quanto na arrogância com que ameaça as organizações defensoras do meio ambiente, interessadas – conforme admite a lei – em assistir às deliberações do órgão.

Para impedi-las disso, ele suspendeu a última reunião da entidade e ameaça suspender a próxima.
O presidente Lula está empenhado em lutar contra a praga do sistema financeiro internacional e em conter a ganância dos juros altos. Os danos do sistema financeiro podem ser revertidos mediante a forte intervenção do Estado e o controle monetário, mas a violação dos códigos da natureza será irreparável. É preciso que se coloque a coleira da razão sobre os ilustres cientistas que participam da Comissão Nacional de Biossegurança.
O povo brasileiro deve ser ouvido. Só ele tem legitimidade para tratar de um assunto de tal seriedade que coloca em risco a vida de todos. Um plebiscito não seria demasiado.

(e-Campo/AEN/PR) 19/04/09

Se não me falha a memória, o presidente Lula, em promessas de campanha, disse que o Brasil seria um país livre de transgênicos... promessa é dívida, confere, senhor Presidente? ah, esqueci que esse aforismo não vale para políticos...

5 comentários:

ITATIANA ALVES disse...

Oi! Tudo bem?
Amei seu blog!
Parabéns!
Tenha uma semana abençoada!
Bjs!

Vera Falcão disse...

Oi, Tati, obrigada pela visita e por ter apreciado o blog; também acho, como você, que cozinhar é extremamente divertido, relaxante e traz um grande prazer ao cozinheiro (ele espera que também agrade aos consumidores da sua comida... rs).

Beijos

Amigos da Rua Gonçalo de Carvalho disse...

Esse problema dos transgênicos é muito sério e não apenas pela chamada "manipulação genética", o que por si já preocupa bastante.
A dominação econômica dos grandes grupos transnacionais, possuidores das patentes e das sementes, talvez seja ainda mais preocupante e pouco se destaca na mídia. Mas entendemos bem isso, quando pedimos direito de resposta em um canal de televisão que atacava os defensores da Gonçalo de Carvalho e nos foi respondido que nós não somos anunciantes. Então que isso fosse pedido na justiça...
As poderosas transnacionais são ANUNCIANTES.

Vera Falcão disse...

Sim, o chamado poder econômico estende, cada vez mais, suas garras - mesmo sabendo que vivemos num sistema capitalista, há muito tempo os limites do bom-senso e da ética foram ultrapassados. O corpo, eles já compraram, pois a maior parte da população é escrava dos seus produtos e aos poucos, devoram também nossa alma. Ainda bem que algumas batalhas são vencidas nesse embate com as AUTORIDADES, como o caso dessa rua maravilhosa, Gonçalo de Carvalho, que, aliás, está merecendo um post por aqui, grande abraço!

Amigos da Rua Gonçalo de Carvalho disse...

Vera, muitos desconhecem o que estava por trás da luta da Gonçalo. A mídia nunca destacou os "interesses" econômicos que queriam uma construção com dinheiro da Lei Rouanet em um complexo cultural que após 25 anos seria de propriedade de um grande grupo econômico.
Este trabalho fala nisso:
http://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/29687