terça-feira, 30 de outubro de 2007

Descaso com o consumidor

EM QUEM CONFIAR?


Editorial de ZH, edição de hoje, 30/10/07

As denúncias de que produtores de leite longa vida adulteravam esse alimento revestem-se de grave importância e apontam para uma irresponsabilidade intolerável. Agora mesmo revelam-se conclusões de um relatório sigiloso do Ministério Público sobre o fato. A adição de água oxigenada no leite adulterado significava não apenas a introdução de conservantes capazes de prolongar a validade do produto. Significava também um processo que mascarava as más condições da higiene, da conservação e do transporte do leite, com a potencialidade de fazer mal à saúde. A fraude era ainda mais perversa: além dos efeitos relacionados acima, o coquetel químico aplicado ao leite provocava a destruição das vitaminas A e E, duas das mais importantes virtudes do alimento. Segundo o documento do Ministério Público, o leite com água oxigenada pode afetar a saúde. Se ingerido em pequenas quantidades, poderia provocar problemas estomacais ou intestinais. Se a concentração for muito elevada, os danos podem ser mais graves, produzindo intoxicações e até danos oculares se o produto for posto em contato direto com os olhos. Não é, pois, sem razão que os consumidores se sintam agredidos e ludibriados por esse escândalo na produção de um alimento humano dos mais necessários e dos mais comercializados. A extensão da fraude do leite é especialmente assustadora por ocorrer com um alimento que é recomendado como indispensável para as crianças. Trata-se de um episódio que aponta para a ocorrência de uma imperdoável irresponsabilidade por parte das empresas que adulteravam o leite, além de sugerir a omissão, a conivência ou a incompetência fiscalizatória do poder público. Do ponto de vista dos direitos e dos interesses dos consumidores, o caso do leite é esclarecedor da falta de cuidado com que temas tão importantes são tratados. O que se deve esperar das autoridades, com urgência e transparência, é uma informação definitiva sobre os produtos que devem ser evitados, inclusive para que a população se tranqüilize e para que os produtores que não cometeram esse tipo de fraude sejam preservados de prejuízos. Nesse sentido, é preciso que se esclareçam as razões para que grandes quantidades de leite longa vida tenham sido enterradas, suspeitosamente, no Rio Grande do Sul. A competência para fiscalizar esse tipo de problema em nosso país é da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e do Ministério da Agricultura. São ao todo 1,7 mil estabelecimentos produtores de leite, dos quais 180 considerados grandes. Mesmo que o número seja expressivo, o país espera que a fiscalização seja eficiente. A responsabilização das empresas que produzem leite com aditivos incompatíveis com o consumo humano deve ser feita de maneira exemplar. O consumidor que compra leite tem o direito de receber leite. E não qualquer outra coisa.
Riscos A Anvisa alerta que o leite adulterado tem como risco intoxicações leves, com náusea, vômito ou diarréia. Relatório do Ministério Público acha que os efeitos podem ser mais graves.

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"Irresponsabilidade intolerável" e...
falta de ética!

Tudo gira em volta do lucro e a corda sempre arrebenta no lado mais frágil, ou seja, no consumidor. Coletei alguns fragmentos de textos relacionados com esse descaso: "É por isso que a indústria, governo e universidades nâo têm vergonha de culpar o agricultor pelos problemas com os agrotóxicos. Usam até a ciência (toxicologia) para alcançar ou manter seus negócios. Assim, o veneneo, que foi inventado para matar em menor quantidade e da forma mais múltipla possível, passou a contar com valores que, em pequenas quantidades, era seguro para o agricultor. Os cientistas diziam, em 1958, e ganharam muito dinheiro com isto, que o homem podia comer tantas miligramas de DDT todos os dias e ao longo da vida que não faria mal. Isto justificava os lucros.
Era chamada de Dose Diária Aceitável calculada com muito critério e pompa acadêmica, a quantidade de veneno, em miligramas multiplicada pelo peso da pessoa. Depois vieram as tolerâncias.

Tolerância é a quantidade de agrotóxicos (ou outros venenos) que as autoridades da saúde permitem que exista nos alimentos.
Por exemplo, na cenoura se diz que podem existir 2 ppm (parte por milhão) de Aldrin, um organoclorado perigoso e cancerígeno; dito de outra forma, 2 mg de Aldrin em um quilo de cenoura. O cálculo é feito levando em consideração que normalmente se comem menos de vinte e cinco gramas de cenoura por semana.

Isto pode ser verdade para um adulto. Entretanto, devemos lembrar que os bebês de 6 meses de idade comem apenas cenoura duas a três vezes por dia. Eles consomem muito mais que cem gramas por dia.
Isto mostra o mentiroso que é o cálculo da Ingestão Diária Aceitável. Por outro lado, consultando os livros das décadas de 50 e 60, víamos que as tolerâncias eram extremamente altas. Nossas tolerâncias comparadas com as dos países europeus são várias vezes superiores. Outro aspecto interessante é que, no café, é permitida pouquíssima quantidade de veneno, ao passo que, no tomate e no morango, são permitidas grandes quantidades. É que o café é exportado e, lá fora, eles não querem veneno nosalimentos. Já o tomate, morango e outras frutas são comidas por nós, sem descascar.

Isto é muito bom, pois as empresas também vendem remédios para a desintoxicação, ao mesmo tempo que preparam o mercado futuro, com os remédios para o câncer."
Cartilha dos Agrotóxicos - Sebastião Pinheiro

"No Rio Grande do Sul, a Pionner Sementes, subsidiária da empresa americana, vendeu 300 toneladas de semente de milho, sem poder germinativo, tratada com Aldrin, para a alimentação animal e humana. Esta comercialização criminosa foi denunciada. Ela tentou processar o funcionário público que a investigou. O funcionário desacatado acionou o Ministério Público para processar o gerente norte- americano da empresa. Uma juíza federal deixou o processo prescrever e a empresa permanece impune."

Idem

"Monsanto ocultou a contaminação com dioxina de muito de seus produtos.
Em uns casos, Monsanto não informou da contaminação, em outros deu informações falsas com o fim de demonstrar que não existia contaminação e, por último, em alguns casos remeteu "amostras falseadas", para as análises do governo, para que não fossem detectadas dioxinas."

The Ecologist - vol 28 nº 5
Os Arquivos Monsanto

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