Friday, January 16, 2009

Vampiros Vegetarianos



Hoje fui assistir ao filme Twilight (Crepúsculo): desde o Natal que minha caçula promovia insistente campanha para que a levasse para ver a história do romance entre uma humana e um vampiro.
Sempre fui atraída por filmes contando histórias de terror, principalmente sobre vampiros.
Quando era criança, ficava aterrorizada com as produções da Hammer, onde um Christopher Lee canastrão rasgava o pescoço das donzelas, sedento por sangue e prazer. Depois, a produção desse tipo de filme foi ficando mais sofisticada, como no maravilhoso Drácula de Bram Stocker, a Entrevista com o Vampiro, trazendo Tom Cruise e Brad Pitt transfigurados por enormes caninos, o surrealista e debochado A Dança dos Vampiros com a beleza estonteante de Sharon Tate e o charme de Roman Polanski, o hilário A Hora do Espanto, o juvenil Garotos Perdidos, o soturno vampiro de Klaus Kinski em Nosferatu, apaixonado pela virginal palidez de Isabelle Adjani e, claro, não esquecendo os clássicos Bela Lugosi e o primeiro Nosferatu de Murnau, além das séries de TV, Buffy e Angel.
Muitos e excelentes filmes sobre vampiros certamente ficaram de fora da minha lista superficial, que serviu para ilustrar que a mitologia vampiresca na qual se estruturavam esses filmes era, basicamente, a mesma:

1) vampiros são seres do Mal e das Trevas, são vilões e, rigorosamente, assassinos e caçadores;
2) temem a cruz, a água benta, enfim, símbolos cristãos;
3) não suportam a luz do sol, não podem se expostos a ela, pois queimarão até restarem apenas cinzas;
4) dormem durante o dia, em seus caixões cuidadosamente escondidos;
5) são solitários, quando muito têm uma companheira (e um servo fiel que atende a todas as suas necessidades);
6) uma estaca de madeira trespassando o coração, elimina a existência do morto-vivo.

Então, foi com algum espanto que fiquei ciente de uma nova mitologia vampiresca: os vampiros de Twilight vivem em família, moram numa cidade nas montanhas, onde o clima quase sempre sombrio e chuvoso permite que eles circulem livremente (a perigosa luz solar fica por trás das nuvens), integram-se à comunidade e, o mais interessante, esse grupo conseguiu controlar o impulso de matar humanos para alimentar-se e ataca apenas animais para beber seu sangue.
Num diálogo do herói com a heroína, ele se denomina um “vampiro vegetariano”, por não matar mais humanos e apenas animais. E ainda compara sua “dieta especial” com a de alguém que se alimenta o tempo inteiro de tofu...  A propósito, a jovem heroína é vegetariana e há várias referências sobre isso, por exemplo, quando ela vai comer com o pai numa lanchonete onde fazem pratos vegs (ela até o aconselha a comer menos carne).
Eles também não dormem nunca, nada de esquifes enterrados no porão da mansão soturna - aliás, vivem numa bélissima e moderna construção, com a maioria das paredes feita de vidro! Outra grande novidade é que podem tomar sol, mas não o fazem porque quando os raios tocam sua pele, começam a brilhar, minúsculos pontinhos de luz cintilam e, obviamente, não devem ser vistos com essa peculiariar aparência. Mas nada mais de pegar fogo, explodir e virar pó... uma visão bastante romantizada, onde os ex-seres das trevas mostram um look quase diáfano.
Essa é a idéia, a fórmula usada pela autora para capturar a atenção dos leitores, em grande parte jovens: a versão romantizada dos seres do Mal, assassinos redimidos e capazes de amar, ter sentimentos e não apenas a clássica sede de sangue.
Confesso que também fui seduzida por essa versão sensível dos seres que um dia me atemorizaram, me fazendo perder o sono, escondida sob as cobertas nas madrugadas insones.

Os Cullens, a família vamp e modernosa

O herói é lindo, gentil, inteligente, cavalheiro, parece não ter nenhum defeito, pois até controlar sua crueldade nata ele consegue; como temer essa personagem?
A família de vampiros é simpática e divertida, lembrando uma família Adams sem o visual monstruoso, pois todos são belos espécimes. Há também uma facção de vampiros que ainda matam humanos (vampiros carnívoros?).
A autora dos livros – Stephenie Meyer - nos quais se baseiam os filmes (uma continuação já está programada) mostra que nem tudo é preto ou branco, há tons intermediários. E se você temia a alta figura de capa preta e vermelha com longas presas aproximando-se da sua jugular, não tenha mais medo, porque talvez ele seja um “vampiro vegetariano” – leia-se vampiro bonzinho...

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